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Estado de Minas

Entidades ligadas a vereadores de BH recebem título de utilidade pública

Vereadores de Belo Horizonte apresentam propostas que concedem títulos de utilidade pública para entidades das quais participam ou que lhes rendem votos nas eleições


postado em 09/10/2011 09:14 / atualizado em 09/10/2011 09:20

A distribuição de títulos de utilidade pública também é um dos assuntos preferidos dos vereadores de Belo Horizonte. Pelo menos é o que mostram os números das últimas legislaturas. Do total de 1,7 mil projetos dos parlamentares que viraram lei nos últimos 11 anos, 532 foram para dar o título às entidades filantrópicas. É quase um terço do total. Só em 2011, 44% (26) das 59 propostas sancionadas pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB) com origem no Legislativo tratam do tema. Na Câmara, o que se destaca não é o número de projetos com esse fim, mas o fato de alguns vereadores usarem o artifício para beneficiar suas próprias instituições.

Assim que assumiu uma cadeira na Câmara Municipal, em 2005, Miguel Corrêa (PT) emplacou o projeto que transformou a ONG que preside, a Mudança Já, em entidade de utilidade pública. Fundada em 2001, a organização não governamental, com sede em Venda Nova, foi responsável por dar força a Corrêa para conquistar seu primeiro cargo político. De lá pra cá, ele se elegeu deputado federal por duas vezes.

Ao serem reconhecidas como utilidade pública municipal, as entidades ficam aptas a fazer convênios com o governo municipal. Em alguns casos, a declaração pode ser critério de desempate na disputa de recursos. Outra vantagem, válida para as organizações de assistência social e de educação infantil com a declaração, é a isenção do IPTU.

Para explicar o fato de ter se beneficiado, Miguel Corrêa alegou que a indicação da Mudança Já foi simbólica. “Nós fazemos parcerias apenas com empresas privadas que não exigem a declaração”, disse. Mas não foi só nele que despertou o interesse de usar o título em causa própria. O vereador Gunda (PSL) que mantém a Balanço Social e o ex-vereador e deputado federal Luis Tibé (PTdoB) fundador da Valorizar, também estimularam suas ONGs.

A declaração de utilidade pública, segundo o presidente da ONG Valorizar, Leandro Ramon Campos, é cobrada por alguns órgãos para liberar recursos. “Nós recebemos doações da Ceasa porque fomos reconhecidos como utilidade pública”, exemplificou. Fundada em 2007, hoje com sete sedes localizadas em Belo Horizonte e região metropolitana, a entidade apoiada por Luis Tibé – que oferece cursos de capacitação profissional – também está pleiteando o título na Assembleia de Minas. A assessoria do deputado não retornou a ligação e o vereador Gunda, que nega ter uma ONG, disse que prestigiou a Balanço Social por fazer trabalhos importantes à sua comunidade.

Toma lá As entidades que não têm representantes no Legislativo tentam buscar o título nos gabinetes dos parlamentares que recebem em troca apoio político. E as indicações, raramente questionadas, passam despercebidas pelo plenário. Elas contemplam desde entidades de tênis de mesa, de odontologia, clubes de futebol a creches e organizações ligadas à cultura. Dos 174 projetos apresentados de utilidade pública desde 2009, apenas cinco foram rejeitados, sendo que 10 estão em tramitação.

Uma das entidades prestigiadas nesta legislatura foi o Grupo Escoteiro do Ar Padre Eustáquio, que pratica diversas atividades, entre elas astronomia. Segundo o vice-presidente, Sérgio Luiz de Carvalho, o ex-vereador Anselmo Domingos, autor do projeto, não pediu apoio em troca da indicação. Ele ressalta, entretanto, que ao beneficiar a entidade é comum que pessoas ligadas a ela queiram votar no político. Sérgio ressaltou que o grupo, “além de complementar a educação do jovem, pratica ações de cunho social e ambiental”. Ele admitiu que o intuito de conseguir o título de utilidade pública foi para poder receber recursos públicos.

O mesmo objetivo teve a Federação de Triathlon quando requisitou o reconhecimento à vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PcdoB). Entretanto, ao contrário do Grupo Escoteiro do Ar Padre Eustáquio, não faz trabalhos sociais, e segundo o presidente, Bruno Khowri, “organizar eventos de esporte é utilidade pública”.


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