Brasília – A presidente Dilma Rousseff elevou a voz diante das exigências da Fifa para a realização dos jogos da Copa do Mundo de 2014. Mas a resistência do governo brasileiro vai ater-se às questões federais, como a garantia da meia-entrada para os idosos durante as partidas ou a obrigatoriedade de que a emissora oficial dos jogos repasse, em até duas horas, 6% das imagens para os demais canais de televisão. Outros assuntos, como o desconto de 50% aos estudantes, deverão ser discutidos pela entidade máxima do futebol diretamente com os governadores, porque são assuntos regidos por legislações estaduais. Tanto que o Planalto vai se esforçar para que esse tema seja retirado do Estatuto da Juventude, aprovado na semana passada na Câmara.
Segundo a Fifa, “um evento da magnitude da Copa do Mundo tem suas especificações próprias e, portanto, a Fifa e o COL (Comitê Organizador Local) estão trabalhando em conjunto com as autoridades locais para chegar a uma solução apropriada e específica que irá garantir o necessário para um evento bem-sucedido e que ao mesmo tempo respeite a legislação local”.
Quando o Brasil aceitou sediar a Copa de 2014 – a escolha ocorreu em 2007, em uma cerimônia em Zurique (Suíça) na qual o país era candidato único – sabia que a entidade máxima do futebol estabelecia uma série de pré-requisitos para a organização do Mundial. “E nós estamos cumprindo todas essas questões. Daremos proteções às marcas, garantiremos liberdades de vistos de trabalho, isentaremos a Fifa dos impostos”, disse um aliado de Dilma. Em 2013, inclusive, o Brasil pretende lançar um novo satélite que atuará nas questões de segurança e também dará mais agilidade à transmissão dos sinais televisivos dos jogos.
Divergências A questão é que, quando o Brasil foi premiado com o direito de sediar a Copa do Mundo – dois anos depois o Rio de Janeiro venceu a disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016 – o país estava mais preocupado em sair exitoso na disputa do que em pesar os prós e contras dessas conquistas. “Estão passando uma imagem errada de que a Copa é do país, do Brasil. É Fifa World Cup. Ao aceitar ser sede, você concorda com as exigências impostas para isso”, afirmou o economista Clóvis Zapatta.
Esses discursos aparentemente divergentes ocorrem porque eventos esportivos desse porte envolvem não apenas questões esportivas mas, sobretudo, aspectos políticos e econômicos. Teorias da chamada economia política, como as formuladas pelo professor Harry Hiller, na Universidade de Alberta, no Canadá, ou pelo professor Matthew Burbank, da University of Utah (USA), mostram que “governantes esforçam-se para levar eventos de grande porte para os seus países por acharem que isso vai transformá-los em heróis nacionais perante seus eleitores”. E vendem a ideia de que esses grandes eventos são positivos porque embalam a economia nacional e deixarão um legado para a nação.
A tese vale para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ambos foram a Copenhague, na Dinamarca, defender, respectivamente, o Rio de Janeiro e Chicago para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. O que diferencia é a percepção do eleitorado diante disso: os cidadãos de Chicago não encamparam a ideia de receber os jogos, enquanto os cariocas comemoram a conquista.
Clóvis Zapatta, que é ex-pesquisador do PNUD – órgão das Nações Unidas para o Desenvolvimento e autor do estudo “Impactos econômicos e ambientais de megaeventos esportivos” – não acredita que as diferenças de opinião possam levar a um rompimento entre as partes. “As grandes organizações esportivas têm se esforçado, ao longo dos últimos anos, para organizar grandes eventos em países em desenvolvimento ou em nações árabes”. Ele cita, por exemplo, a Copa de 2018 na Rússia, de 2022 no Catar e a realização de etapas da Fórmula 1 em Cingapura e as Olimpíadas de Pequim em 2008. “Se olharmos o mapa- múndi dos Jogos Olímpicos, à exceção de México 1968, todos os demais aconteceram em nações do Primeiro Mundo”, disse Zapatta.