Jornal Estado de Minas

Milhares de crianças e idosos saem às ruas em BH para exigir ética na política

Brasília, Rio de Janeiro e outras capitais também foram cenário de protestos contra a corrupção

Marcelo da Fonseca- enviado especial Renata Mariz Alana Rizzo

Fazia tempo que Zenaide Ferraz Campos, de 64 anos, e Francisco Rezende, de 69 anos, de Belo Horizonte, não participavam de uma manifestação popular. No entanto, o tempo longe das ruas não fez com que o casal esquecesse o espirito de luta e a vontade de mostrar o seu descontentamento com o que está errado no país. Ontem, Zenaide e Francisco levaram apitos para a Praça da Liberdade e acompanharam os cantos de outras 350 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, que pediam um basta na corrupção. Perto do casal, Vinícius Rodrigues, de 7 anos, participou, ao lado do pai, pela primeira vez de um ato público pelas ruas da capital, junto com outras crianças, que deixaram a diversão de lado na tarde do feriado para acompanhar os pais na Marcha contra a Corrupção. Em Brasília, principalmente, e em várias capitais, a marcha levou milhares de pessoas às ruas.

“Participei tempos atrás de grandes manifestações. Era comum as pessoas ir às ruas mostrar a insatisfação com erros dos governantes. Hoje, a mobilização volta a ganhar força e tomara que cresça cada vez mais”, diz Francisco Rezende. Para Zenaide Ferraz, pode ser um passo importante para que os brasileiros voltem a cobrar seus direitos de maneira ativa. “Sair às ruas para cobrar o fim da corrupção é exercer a cidadania e mostrar que estamos atentos ãs ações de nossos representantes”

Sobre as diferenças dos movimentos atuais com as antigas manifestações que levavam milhares às ruas, a aposentada vê na ausência de líderes um dos motivos para a menor adesão das pessoas. “Talvez o que falte mesmo são os comandos mais ideológicos que existiam antigamente, com líderes que conseguiam coordenar bem o público e transformar a insatisfação em lutas populares, mas esperamos que os movimentos pela ética continuem crescendo”, afirma Zenaide.

A manifestação foi organizada por meio de redes sociais na internet. Cerca de 200 pessoas confirmaram a presença no evento. Os participantes combinaram de levar faixas e os detalhes da concentração na Praça da Liberdade a partir das 14h e depois fazer uma passeata até a Praça Sete. O grupo, que se reuniu ao lado do coreto, foi ganhando cada vez mais gente ao longo da tarde, com os participantes se revezando no alto-falante para convocar mais pessoas a participar do movimento e falar sobre os problemas que percebiam nas ações dos governantes. “Uma maratona começa com o primeiro passo, e se não reclamarmos do mau uso do nosso próprio dinheiro, quem é que vai reclamar?”, perguntou o aposentado Cláudio Duarte, de 61, ao microfone.

Onze mil na Esplanada

No mesmo momento que ocorria a manifestação em Belo Horizonte, em Brasília a Esplanada dos Ministérios foi tomada por uma multidão de indignados com os rumos da política no Brasil. Na capital, a marcha reuniu cerca de 11 mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar. Jovens, adultos, idosos e famílias inteiras caminharam pacificamente do Museu da República até a Praça dos Três Poderes pedindo mais transparência e ética na política. Embora o número de manifestantes tenha sido bem menos do que os 40 mil contabilizados no primeiro protesto do grupo, durante as comemorações do Sete de Setembro, o resultado de ontem é comemorado pelos organizadores.

"Muita gente veio, de forma espontânea, a esta marcha que é nossa, de todo mundo, do povo. Todos pelo fim da corrupção", disse Lucianna Kalil, uma das organizadoras do protesto. Em uma hora e quarenta minutos de manifestação, muitos foram os alvos: Jaqueline Roriz, deputada federal que se livrou da cassação recentemente; José Dirceu, apontado como o "comandante" do mensalão; José Sarney, o presidente do Senado. Em relação à presidente Dilma Rousseff, o tom era ameno, quase de aviso sobre os malfeitos. "Ô Dilma, preste atenção, o brasileiro não quer mais corrupção", bradavam.

A ambulante Telma Ferreira, de 32 anos, moradora de Planaltina, ficou sabendo do protesto pela televisão. "Vim porque cansei de receber três ou quatro deputados durante as eleições na minha casa. Eles pedem para a gente trabalhar na campanha, fazer boca de urna, e depois desaparecem. Tenho meu valor. Quero respeito." Vestida com uma camiseta do movimento Remédio para o Brasil é VNC (Vergonha na Cara), aproveitou a multidão para vender balas e chicletes. "Além de ganhar um trocado, tenho que pagar a condução."

Os rostos jovens, com alguns traços ainda infantis, destacaram-se entre a multidão de gente que invadiu a Esplanada ontem – muitos trajando camisetas pretas e empunhando vassouras pela "faxina" política. Um dos grupos mais engajados era o Juventude Consciente, que reuniu mais de 1,4 mil estudantes de escolas secundárias de Brasília. A maior parte deles nem sequer tem título de eleitor ainda.

 


Com Júnia Gama