A construção de um hospital especializado no tratamento de câncer na Serra do Curral, no Bairro Mangabeiras, Zona Sul de Belo Horizonte, travou nessa sexta-feira as negociações na Câmara dos Vereadores para elaboração de um substitutivo ao projeto de lei que flexibiliza a autorização de obras para a Copa do Mundo de 2014. A prefeitura, autora da proposição original, decidiu negociar a alteração depois que vereadores, inclusive da base aliada ao governo, afirmaram que a intenção do Poder Executivo era aumentar a verticalização da capital e autorizar construções em áreas de proteção ambiental. O embate em torno deste projeto paralisou os trabalhos dos vereadores nas últimas semanas.
O atrito entre os vereadores e a prefeitura ocorreu porque o Poder Executivo propôs aumentar de 20% para 50% o percentual de construção permitido na Serra do Curral. A alteração permitiria que o prédio do Hilton Rocha, que tem 23.248 metros quadrados, passasse a ter 34.872 metros quadrados. A expansão aconteceria em linha horizontal, depois da garantia da prefeitura de não aumentar a verticalização na cidade. Em visita à Câmara na quinta-feira, o secretário de Governo, Josué Valadão, garantiu que as mudanças referentes às zonas de proteção (ZP1) seriam retiradas no substitutivo.
Segundo a vereadora Neusinha Santos (PT), que pertence à base do prefeito Marcio Lacerda (PSB), os parlamentares contrários à construção do hospital na Serra do Curral aceitam “começar negociação” para aprovar o texto se o município aceitar alterar o percentual de construção de 20% para 40%, e não 50% da área. Segundo o gerente técnico-consultivo da Prefeitura de Belo Horizonte, Leonardo Castro, o projeto da Oncomed para a Serra do Curral poderá ser levado adiante, mas já é certo que não terá os 50% de crescimento de área construída previstos inicialmente na proposta do município.
A expectativa da vereadora do PT é de que o texto seja negociado no fim de semana e votado na segunda-feira. O presidente da câmara, no entanto, tem avaliação diferente. “Possível é, mas é improvável”, disse. O plano diretor para a obra na Serra do Curral foi aprovado em sessão do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município em dezembro do ano passado. A decisão foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM) na semana seguinte, condicionada à apresentação de um levantamento arquitetônico atual detalhado ou cópia do microfilme do projeto. (Colaborou Marcelo da Fonseca).
Opinião do EM
Expansão temerária
Uma forte nebulosidade continua a pairar sobre os reais interesses por trás do projeto que inclui o antigo Instituto Hilton Rocha entre as unidades de saúde de Belo Horizonte que necessitam de ampliação. A demanda de leitos não pode servir como justificativa para um projeto de expansão francamente temerário do ponto de vista ambiental e da ocupação urbana. Na verdade, para se corrigir um equívoco histórico, o mais acertado seria a desativação do hospital e a devolução da área ao mais antigo e legítimo dono: a Serra do Curral.
Memória
Nome de peso
Em maio de 1974 o cartório do 3º Ofício de Notas de Belo Horizonte lavrou escritura autorizando que o Instituto Hilton Rocha se instalasse no pé da Serra do Curral, mas reforçou que o terreno não poderia ter outra destinação a não ser um instituto oftalmológico. A instituição carrega o nome de um dos mais prestigiados oftamologistas do país. Hilton Rocha (1911-1993) ganhou reconhecimento pelo uso de técnicas aprimoradas e atendimento humanístico aos pacientes e se destacou como professor responsável por implementar um modelo de residência médica que consistia em dedicação em tempo integral, durante dois anos, ao Hospital São Geraldo. Em 1954, o professor realizou o primeiro transplante de córnea no Brasil, no Hospital das Clínicas da UFMG.