O estilo direto da presidente Dilma Rousseff já provocou muitos calafrios em integrantes do governo, parlamentares da base aliada e incautos interlocutores desacostumados com a objetividade impressa pela presidente nas relações pessoais e políticas. Diferentemente do antecessor imediato, Luiz Inácio Lula da Silva, que, nas palavras de um antigo conhecido, "faz política para ganhar sempre e abraça adversários com a mesma facilidade com que detona aliados", Dilma tem mais dificuldade em acostumar-se às contemporizações. Por isso, nesses primeiros 10 meses de gestão, colecionou uma lista de desafetos com os quais não quer travar qualquer tipo de contato. Um dos principais é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. A pouco mais de três anos da Copa do Mundo de 2014, a presidente não faz a mínima questão de esconder que não gosta do cartola. Vários fatores levaram a esse distanciamento. O principal deles são as denúncias, sucessivas, de corrupção envolvendo o dirigente esportivo, tanto no âmbito da CBF quanto em decisões da Fifa sobre escolhas das sedes para as Copas do Mundo marcadas para depois de 2014.
Dilma sabe que não pode interferir diretamente na administração da CBF. Como o próprio Ricardo Teixeira afirma, ele administra uma "entidade privada, sem um centavo de dinheiro público". Mas reserva-se o direito de não atrelar a imagem do dirigente à sua imagem. Durante a cerimônia de sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014, Dilma colocou Pelé entre ela e Teixeira. O embaixador da Copa no Brasil foi citado mais de uma vez no discurso presidencial, um deles antecedido pelo epíteto "meu querido". Para Teixeira, um mero e frio "senhor" , protocolar.
Arestas
Os grandes eventos esportivos marcados para o Brasil estão gerando dissabores para a presidente. A Olimpíada do Rio de 2016 não é exceção. Dilma está sem paciência com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. A intenção inicial da presidente era que Meirelles fosse o grande administrador dos jogos no Rio, o responsável por gerenciar as obras, controlar as licitações, utilizando toda a sua expertise e respeitabilidade internacionais. Mas brigas políticas com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito carioca, Eduardo Paes, esvaziaram a influência do ex-presidente mundial do Bank Boston. Mesmo assim, ela queria manter Meirelles no cargo de autoridade pública olímpica(APO). Mas ele não quis, sentindo-se desprestigiado. Dilma nomeou Márcio Fortes para o cargo e avisou a Meirelles que ele seria o representante do governo federal no Conselho da APO. O ex-presidente do BC continuou tristonho e aceitou o convite para filiar-se ao PSD, com a possibilidade de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.
Cabral também é outro amigo de Lula que está em rota de colisão com a presidente. Dilma detesta que pessoas digam a ela o que tem de fazer. Prova disso foi o que a presidentee disse em recente reunião com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. "Concorra a uma eleição, consiga 56 milhões de votos e sente aqui, nesta cadeira. Então a gente conversa". Em relação a Cabral, Dilma tem emitido sinais constantes de que o governador fluminense ultrapassou, há muito, o limite do bom senso no debate sobre a divisão dos royalties do petróleo. Para não parecer instransigência, a presidente recebeu o peemedebista em audiência reservada no dia em que viajaria para a Europa. Dois dias depois, Cabral declarou que a presidente deveria "vetar qualquer projeto que ferisse os interesses do Rio de Janeiro". Novo atrito no relacionamento.
As trocas de ministros deixaram sequelas graves no humor presidencial. Nelson Jobim foi o principal deles. Dilma nunca escondeu que preferia tirá-lo do Ministério da Defesa, mas acabou aceitando os apelos de Lula e manteve-o no governo. Em oito meses na pasta, falou demais e fez de menos. Disse que nos tempos atuais "os idiotas perderam a modéstia". Admitiu publicamente que votou em José Serra nas eleições de 2010. Por fim, disse que a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, não conhecia Brasília e a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ideli Salvatti, era muito fraquinha.
O escândalo nos Transportes também levou a presidente a riscar de sua caderneta, de uma vez só, o senador Alfredo Nascimento (atual presidente nacional do PR) e o deputado Valdemar Costa Neto (secretário-geral do partido). Valdemar é suspeito de comandar o esquema de corrupção na pasta e Alfredo teria perdido a chance para sanear o ministério. Não o fez e ainda reclamou pelos corredores de ter sido excluído de reuniões para discutir o PAC.