O policial militar João Dias Ferreira reiterou nesse domingo a denúncia feita à revista Veja e proferiu novos ataques. Em seu blog pessoal, Ferreira chamou o ministro de "bandido" e disse que apresentará às autoridades provas do esquema de corrupção no programa Segundo Tempo. "Bandido é você e sua quadrilha que faz e refaz qualquer processo do ministério de acordo com sua conveniência".
Ele comanda a Associação João Dias de Kung Fu e é presidente da Federação Brasiliense da modalidade. As duas entidades firmaram convênios com o Ministério do Esporte. Segundo Dias, o esquema vem desde a gestão de Agnelo Queiroz, atual governador do Distrito Federal, quando Orlando respondia pela secretária executiva da pasta.
Em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo o ministro rebateu novamente as acusações e desafiou João Dias a apresentar documentos que o incriminem. "Este farsante não tem e não terá nenhuma prova porque está mentindo". Orlando não quis comentar os ataques publicados na internet pelo policial. "Não vou me rebaixar a uma pessoa deste nível. O diálogo com este marginal só pode ser feito no Judiciário".
'Confortável'
O ministro afirmou estar confortável para permanecer no cargo, mas ressaltou que a decisão cabe à presidente Dilma. Destacou que, devido à realização de grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a pasta que ocupa passou a ter mais importância, tornando-se, assim, alvo de disputa na Esplanada. "Sei que tem um jogo político e que o ministério onde atuo aumentou a cobiça".
Ele reiterou sua disposição de ir ao Congresso prestar esclarecimentos. O líder do PC do B na Câmara, Osmar Júnior (PI) vai apresentar hoje um requerimento. A audiência, que deve ser conjunta nas comissões de Fiscalização Financeira e Controle e Turismo e Desporto deve acontecer ainda nesta semana.
Na visão de aliados, a situação do ministro depende muito do seu desempenho perante os parlamentares. "Temos que aguardar a audiência, mas ele fez bem em se oferecer para ir à Câmara, mostra que ele está disposto a esclarecer", disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). "Ele tomou uma posição firme, deu uma resposta positiva, pediu à Polícia Federal para investigar e vai ao Congresso nesta semana. Acho que é uma postura positiva porque ele não se escondeu".
No PCdoB, o apoio a Orlando foi manifestado de diversas formas. O presidente da legenda, Renato Rabelo, atribui os ataques de João Dias a uma "tentativa intimidatória contra o partido". Ele afirmou que o PC do B não interfere na rotina do ministério, mas ressaltou a confiança em Orlando. O presidente do diretório do partido no DF, Augusto Madeira, destacou que João Dias não é militante, apesar de ter se candidato a deputado distrital pela legenda em 2006.
Fredo Ebling, acusado na reportagem da Veja de indicar quem receberia o dinheiro desviado do ministério, também se defendeu. Ele negou qualquer envolvimento. "Venho a público manifestar meu veemente repúdio às mentirosas e caluniosas afirmações contra mim lançadas". Disse ter conhecido Dias durante a campanha de 2006, quando disputou um cargo de deputado federal, mas diz que o contato entre eles restringiu-se a este período.
O Estadão já havia revelado em uma série de reportagens em fevereiro que o programa vinha sendo usado para fazer caixa para o PC do B. Sem licitação, o ministro entregou a ONGs ligadas ao partido contratos que somaram R$ 30 milhões em 2010.
Tentativa de acordo. Outro integrante da cúpula do ministério foi envolvido no caso por João Dias. Em seu blog, o policial afirmou que, por ordem de Orlando, o secretário nacional de esporte de alto rendimento do ministério, Ricardo Leyser, teria tentado localizá-lo na sexta-feira. "O que ele queria comigo? Fazer mais um daqueles acordos não cumpridos?", provocou Dias.
Leyser negou qualquer tentativa de contato, pessoal ou por telefone. "Como, se estou em Guadalajara desde quarta-feira? Estou acompanhando os jogos Pan Americanos. Pode verificar se tem alguma ligação dos nossos celulares aqui, não vai ter, se tem ligação no hotel, não vai ter", afirmou o secretário. "Como eu o procurei? Por teletransporte?", ironizou.
O secretário questionou ainda a acusação feita pelo policial de que Orlando teria recebido propina na garagem do ministério. "Não parece uma coisa razoavelmente plausível de acontecer, nem no Ministério dos Esportes, nem outro ministério. A garagem tem gente, tem movimento, tem segurança, tem câmera. Se um ministro ou secretário-executivo desce, todo mundo conhece, não tem a menor possibilidade de acontecer isso", disse Leyser.