Para um plenário lotado de deputados da base, Orlando Silva pediu que o PM apresentasse as provas de que ele teria recebido dinheiro desviado do principal programa do ministério, o Segundo Tempo. Em entrevista à revista Veja, o soldado afirmou que o ministro recebeu na garagem do prédio na Esplanada recurso de forma ilegal do programa. “Até aqui esse desqualificado falou e não provou. Quem tem provas dos malfeitos dele sou eu e estão aqui”, disparou Orlando com documentos sobre duas ONGs de propriedade do PM.
Depois de ingressar no PCdoB, partido de Orlando Silva, o militar passou a comandar a Federação Brasiliense de Kung-Fu e Associação João Dias de Kung-Fu. Com a primeira, firmou um convênio de R$ 2 milhões com o ministério. A segunda entidade recebeu R$ 922 mil. Ferreira é réu em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal, em razão das irregularidades na execução dos convênios.
A audiência realizada na Câmara contou com a participação dos líderes da base aliada que um a um fizeram declaração de apoio a Orlando Silva. Aplausos não faltaram a cada intervenção. Na plateia ficaram apenas alguns deputados da oposição de pouca expressão e que não partiram para o embate contra o ministro. O discurso dele rebatendo as acusações chegou até a convencer o deputado e ex-delegado da Polícia Federal Fernando Francischini (PSDB-PR). “Estou acostumado a ouvir bandido em depoimento e não vi nos seus olhos nenhum traço de alguém que tenha realmente pego dinheiro em mãos”, disse Franscischini.
Depoimento na PF
O clima de palanque só foi quebrado uma hora e 30 minutos após o início da audiência quando os líderes dos partidos de oposição entraram no recinto e tomaram assento. O líder do DEM, ACM Neto (BA), informou que eles estiveram reunidos com o delator do suposto esquema, João Dias Ferreira.
Diante do anúncio, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN) provocou: “Mas ele não estava doente?”, ponderou. João Dias não apareceu para prestar depoimento nessa terça-feira de manhã à Polícia Federal. Ele alegou problemas de saúde. O depoimento marcado inicialmente para nessa terça-feira ainda não tem uma nova data prevista.
Após a audiência, o ministro Orlando Silva falou com a imprensa sobre a compra de um terreno avaliado em R$ 370 mil, no distrito de Sousas, em Campinas (SP). “Com relação ao terreno, é o único bem que possuo. Comprei com cheque pessoal que correspondia a valores das economias que, ao longo de toda a minha vida, eu consegui reunir. Não tive nenhuma informação sobre qualquer outro regramento ou plano diretor. É um patrimônio que está registrado no meu patrimônio de bens”, ressaltou.
Orlando também comentou a participação em um vídeo institucional da ONG Pra Frente Brasil. A entidade, dirigida pela ex-jogadora de basquete Karina Valéria Rodrigues, é alvo de denúncias de desvios de recursos do ministério. “É uma entidade que desde 2004 tem convênio com o Ministério do Esporte e presta contas regularmente. A notícia (de irregularidades) vai instruir uma análise de todas as prestações de contas dessa ONG.”