José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo - mítico personagem dos anos de chumbo, famoso ele ficou como delator e agente duplo da repressão -, discorreu segunda-feira à noite sobre o passado remoto, desde quando tudo começou, naquele março de 1964. Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, respondeu indagações de jornalistas e de um desembargador conduzidos por Mario Sergio Conti, novo âncora do programa.
Aos 70 anos, os cabelos brancos repartidos ao meio, uma barba espessa cobrindo o rosto, o corpo magro metido em roupa sem grife, meias amarelas e tênis nos pés, cabo Anselmo confessa que traiu seu País e a Marinha. “Eu me arrependo de ter saído da Marinha e de ter passado à insubordinação.”
Reconhece a vileza de seu gesto porque serviu aos dois lados da contenda e com ambos foi desleal, ora como homem da repressão, ora como companheiro Jônatas nos quadros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
Aceita a alcunha de cachorro (informante da polícia). Não o incomoda, diz, que seu nome tenha entrado para a história como traidor: “O que eu posso fazer quanto a isso?”.