Esse orçamento bilionário, entretanto, não leva em conta outras medidas, como as ações de turismo, de marketing e o preço final das concessões dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Além disso, as arenas contam com dinheiro da iniciativa privada e boa parte dos estádios terá preços finais ultrapassando a casa de R$ 1 bilhão, como é o caso do Itaquerão e do Maracanã, onde acontecerão, respectivamente, os jogos de abertura e de encerramento da Copa de 2014.
Prover a infraestrutura para a organização do Mundial demanda um trabalho coordenado do governo, envolvendo diversas pastas. Apenas na chamada Gecopa, grupo interministerial formado para acompanhar as obras, há 11 ministérios coordenados pela Casa Civil. A presença da ministra Gleisi Hoffmann é institucional, pois toda vez que existem dois ou mais ministérios envolvidos em um planejamento, obrigatoriamente a Casa Civil tem de assumir o papel de mediadora. Mas a nota emitida pela pasta de Gleisi ao longo da semana foi clara ao afirmar que “cabe ao Ministério do Esporte a tarefa de cuidar dos assuntos relativos ao Mundial de 2014”.
As articulações do PCdoB para se manter no Ministério do Esporte começaram ainda durante a transição de governo. Outros partidos, especialmente o PT, estavam de olho na pasta. A presidente Dilma Rousseff estava inclinada a tirar Orlando Silva do comando, passando o bastão para a deputada comunista Luciana Santos (PE), ex-prefeita de Olinda. Naquele instante, cresceram os interesses políticos do presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Apesar de baiano, Orlando tem domicílio eleitoral em São Paulo, estado onde o partido sempre teve papel secundário. A visibilidade daria musculatura eleitoral a alguém que, até o momento, era peça sem expressão no xadrez político paulista.
Rabelo defendeu enfaticamente a manutenção de Orlando. “Poucas pessoas no mundo estão tão capacitadas no tema Copa quanto ele”, afirmou Rabelo, após a cerimônia de diplomação de Dilma, em dezembro. Mas uma proposta feita por ela durante a transição de governo avivou a ambição do PCdoB. Em reunião com a cúpula partidária, a então presidente eleita propôs que Luciana ficasse no Ministério do Esporte e Orlando fosse remanejado para a Autoridade Pública Olímpica (APO), com status de ministro.
A equação interessou aos militantes comunistas. O orçamento previsto para os Jogos Olímpicos no Rio, em 2016, até o momento, beira os R$ 23 bilhões. O PCdoB, um partido com apenas 13 deputados e dois senadores, passaria a administrar quase R$ 50 bilhões. Orlando interessou-se pela troca. Desde quando a APO foi criada, em 2010, o ministro passou a considerar a ideia. Além da possibilidade de tocar um orçamento vultoso, ele teria emprego certo até 2018, já que a APO permanecerá operante até dois anos após a realização dos jogos para responder a quaisquer questionamentos.
FRUSTRAÇÃO
No entanto, o PT minou a ambição de Orlando. Responsável pela montagem do governo Dilma, o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ligou para Renato Rabelo para frustrar os planos do dirigente. “Estão reclamando que o PCdoB vai ficar muito forte, administrando duas pastas. Os aliados não estão gostando”, disse ele a Rabelo. Com a negativa do Planalto, o PCdoB defendeu a permanência de Orlando no Esporte. Na semana passada, com o início da crise no ministério, o titular da pasta teve reforçado o apoio de seu partido reforçado.