Jornal Estado de Minas

Cabo Júlio acusa João da Locadora de vender drogas no gabinete da Câmara Municipal

Leonardo Augusto

"Se é preciso haver pressão para um lado, tem que haver para outro também", Cabo Júlio (PMDB), vereador de Belo Horizonte - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press. - 1/06/11

 

A sessão em que foi votado o projeto que flexibiliza as obras para a Copa do Mundo de 2014 em Belo Horizonte desandou nessa terça-feira para o lado policialesco. Segundo o vereador Cabo Júlio (PMDB), o gabinete do vereador João Bosco Rodrigues (PT), conhecido como João da Locadora, é utilizado como ponto de venda de drogas na Câmara. Ainda segundo o peemedebista, policiais da Delegacia Especializada de Repressão Antidrogas chegaram a ir até a Câmara, há cerca de um mês, para investigações, mas tiveram o acesso ao gabinete negado por não apresentarem mandado de busca e apreensão. A Polícia Civil não confirmou a existência de inquérito sobre o caso.

O episódio estava sob uma espécie de lei do silêncio entre os vereadores. Cabo Júlio só resolveu fazer a denúncia por ter ficado irritado com a pressão feita por João da Locadora à Mesa Diretora para que agilizasse as investigações contra outro parlamentar, Gêra Ornelas (sem-partido), por sua vez  investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)  depois da apreensão de vídeo em que aparece de cuecas no gabinete. Parte do material também mostra Gêra fazendo sexo no que parece ser um motel. Cabo Júlio ocupa o cargo de secretário-geral na Mesa Diretora. “Se é preciso haver pressão para um lado, tem que haver para outro também”, disse o peemedebista.

Divisão


A avaliação entre os vereadores é de que os dois episódios caminham para a criação de um grupo pró-Gêra Ornelas e outro a favor de João da Locadora, o que poderia atrapalhar o andamento do processo interno contra o petista, caso venha a ser aberto, e também as apurações da Câmara já em curso pela Corregedoria da Casa.

Ao fazer a denúncia contra João da Locadora, Cabo Júlio disse que as investigações da Polícia Civil apontam para a atuação no gabinete do petista de um traficante que seria conhecido como Rogerão. Antes de usar o microfone para as acusações, o peemedebista avisou outros integrantes da bancada do PT de que “não era moleque”.

Ao retrucar as acusações de Cabo Júlio, João da Locadora, que é líder do PT na Casa, afirmou ser de família humilde, trabalhadora, que lhe deixou legado de honestidade. “É preciso saber se quem está falando isso tem moral para levar qualquer acusação adiante”, afirmou.

O primeiro-secretário da Mesa-Diretora, Ronaldo Gontijo (PPS), considerou sem propósito a pressão do líder petista. “A Mesa  Diretora funciona com prazos que já estão em andamento em relação ao processo que envolve o vereador Gêra Ornelas”. Já o vereador Alexandre Gomes (PSB), vice-presidente da Casa, apesar de também ocupar posto de comando, apenas saiu em defesa do petista. O parlamentar afirmou que, apesar de ter sérias divergências em relação a João da Locadora – ambos disputam eleitores na mesa região – , não acredita em envolvimento do adversário nas acusações de Cabo Júlio. Ele defendeu, contudo, as investigações.