Jornal Estado de Minas

Discursos de ministros que perderam cargo no governo foram bem parecidos

Marcelo da Fonseca- enviado especial
Os ex-ministros Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Pedro Novais e Orlando Silva foram obrigados a deixar o governo depois de virar alvo de denúncias de corrupção. Mas esse não é o único ponto em comum nos processos de demissão de todos eles. Desde as explicações iniciais dadas por Palocci, então ministro da Casa Civil – primeiro a deixar a Esplanada dos Ministérios, em junho –, até os esclarecimentos prestados semana passada pelo ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, a semelhança entre os discursos apresentados chama a atenção. O leitor mais desatento pode até pensar que está lendo jornal velho, tão parecidas foram as justificativas apresentadas pelos chefes de cada pasta desde o início das denúncias até o envio da carta de demissão ao Palácio do Planalto.
A primeira reação, depois de denunciadas as irregularidades, foi a negativa. Antonio Palocci e os então colegas de Esplanada questionaram o conteúdo das acusações e desafiaram o aparecimento de mais evidências que comprovassem suas participações nos esquemas. Em seguida, as alegações de todos eles continuaram parecidas, com cada qual se comprometendo publicamente a passar aos órgãos de controle as informações referentes às contas bancárias e sigilos pessoais. “Todas as informações já estão nos órgãos de controle e serão prestadas à Procuradoria Geral da República. Toda a vida da minha empresa está disponível”, explicou Palocci dias antes de cair, ao ser questionado sobre o crescimento de seu patrimônio.

Afinados também foram os discursos pós-demissão adotados pelos ministros. Tanto nas cartas enviadas à presidente, como nas entrevistas concedidas depois de deixar o cargo, a defesa da honra aparece como principal motivo para a decisão de pedir a exoneração do governo. “Sou um homem honrado e quero que esses fatos sejam melhor apurados”, afirmou o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento em seu discurso durante o retorno ao Senado. “As acusações alcançaram diretamente a esfera pessoal nos casos dos ministros, talvez por isso eles buscaram formas de salvar suas imagens. Como a honra é um valor compartilhado pelos cidadãos de bem e muito valorizada, acabou sendo um ponto usado recorrentemente para reafirmar as qualidades que foram descartadas com as denúncias”, afirma o linguista Wander Emediato, especialista em análise de discursos do Departamento de Letras da UFMG.

Na avaliação de Emediato, o repeteco nos discursos dos ministros nada mais é que o resultado de um jogo de cena. “O que está em jogo é a proteção da imagem positiva de cada um, algo fundamental na política. Então, pelo menos na aparência, os acusados precisam se mostrar da forma como as pessoas esperam que eles atuem, mesmo que não seja a realidade. Buscam se apresentar como vítima, ofendidos com a denúncia. No caso dos envolvidos com corrupção, a tentativa é de se mostrar o mais correto dos homens”, explica o linguista.

As semelhanças nos discursos marcaram também a atitude do governo federal na condução das denúncias envolvendo os cinco ministros afastados. Da presunção de inocência e do apoio inicial, até a determinação de que cada um prestasse explicações públicas sobre os fatos, as falas e notas da presidente Dilma também foram muito parecidas em todos os casos. “Asseguro que o ministro Palocci está dando todas as explicações necessárias”, afirmou dias antes da demissão do chefe da Casa Civil. O tom foi o mesmo para os outros demitidos: “Manifesto minha confiança no ministro Alfredo Nascimento, que será responsável pela condução das apurações contra o ministério”, comunicou por meio de nota. No caso mais recente, a atitude foi a mesma: “Nós, ao contrário de muita gente por aí, temos o princípio democrático e civilizatório. Presumimos inocência”.