Afinados também foram os discursos pós-demissão adotados pelos ministros. Tanto nas cartas enviadas à presidente, como nas entrevistas concedidas depois de deixar o cargo, a defesa da honra aparece como principal motivo para a decisão de pedir a exoneração do governo. “Sou um homem honrado e quero que esses fatos sejam melhor apurados”, afirmou o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento em seu discurso durante o retorno ao Senado. “As acusações alcançaram diretamente a esfera pessoal nos casos dos ministros, talvez por isso eles buscaram formas de salvar suas imagens. Como a honra é um valor compartilhado pelos cidadãos de bem e muito valorizada, acabou sendo um ponto usado recorrentemente para reafirmar as qualidades que foram descartadas com as denúncias”, afirma o linguista Wander Emediato, especialista em análise de discursos do Departamento de Letras da UFMG.
Na avaliação de Emediato, o repeteco nos discursos dos ministros nada mais é que o resultado de um jogo de cena. “O que está em jogo é a proteção da imagem positiva de cada um, algo fundamental na política. Então, pelo menos na aparência, os acusados precisam se mostrar da forma como as pessoas esperam que eles atuem, mesmo que não seja a realidade. Buscam se apresentar como vítima, ofendidos com a denúncia. No caso dos envolvidos com corrupção, a tentativa é de se mostrar o mais correto dos homens”, explica o linguista.
As semelhanças nos discursos marcaram também a atitude do governo federal na condução das denúncias envolvendo os cinco ministros afastados. Da presunção de inocência e do apoio inicial, até a determinação de que cada um prestasse explicações públicas sobre os fatos, as falas e notas da presidente Dilma também foram muito parecidas em todos os casos. “Asseguro que o ministro Palocci está dando todas as explicações necessárias”, afirmou dias antes da demissão do chefe da Casa Civil. O tom foi o mesmo para os outros demitidos: “Manifesto minha confiança no ministro Alfredo Nascimento, que será responsável pela condução das apurações contra o ministério”, comunicou por meio de nota. No caso mais recente, a atitude foi a mesma: “Nós, ao contrário de muita gente por aí, temos o princípio democrático e civilizatório. Presumimos inocência”.