Além das alterações físicas iniciais sentidas nas sessões de radioterapia e quimioterapia – a primeira realizada diariamente; a segunda, semanalmente –, com a queda dos cabelos e problemas nos dentes, outro desafio é manter a motivação elevada para continuar firme com o tratamento. “O início foi o momento mais complicado, foi um susto, já que câncer era uma doença estigmatizada como uma verdadeira sentença de morte. Hoje, percebemos uma grande diferença e, se tivermos sorte de detectar o problema rapidamente, as chances de cura aumentam muito”, explica.
O oncologista André Murad, que acompanhou Fernando durante o tratamento, lembra a importância de discutir bem cada caso antes de tomar uma decisão e ressalta que aconteceram avanços significativos na área. “No caso de Fernando, optamos por uma ação mais conservadora, uma alternativa diferente que se mostrou muito eficaz. Há pouco menos de seis e sete anos, estávamos em um estágio diferente. Já temos opções menos tóxicas e que permitem maior precisão para atuar em tecidos afetados”, afirma Murad.
ROUQUIDÃO O aposentado Rey de Paiva, 76 anos, começou a desconfiar de que havia alguma coisa errada da mesma forma que Lula. “De repente, comecei a sentir uma rouquidão. Como nunca tive nada, não estava doente, não sentia dor na garganta, fui ao médico ver o que era”, lembra. Após a biópsia, foi constatado o tumor maligno. “Quando recebi o diagnóstico, fiquei assustado, mas aceitei e decidi enfrentar. Perdi 10 quilos e tudo o que comia tinha que ser pastoso. Não foi fácil, mas é possível enfrentar sem desespero”, conta. De janeiro a março, foram três ciclos de quimioterapia, mais 28 sessões de radioterapia, e hoje Rey, que não teve queda de cabelo, comemora a cura.
O aposentado Josafar Osório, 62 anos, recebeu, na tarde de ontem, a notícia de que tinha vencido o câncer. O aposentado, que foi locutor de rádio, não queria perder a fala. Passou por três etapas de quimioterapia e 35 sessões de radioterapia entre junho do ano passado e outubro deste ano. Durante esse tempo, sentiu muito enjoo e dificuldade para engolir. “Houve dias que eu cheguei a chorar de fome, mas não conseguia comer”, diz. Hoje, feliz com a recuperação, Josafar não se incomoda nem com a rouquidão, que permaneceu ao fim do tratamento. “Não importa. O que importa é que estou curado”, comemora.
DIAGNÓSTICO As experiências de Rey e de Josafar são frequentes na família do ex-presidente. Um histórico de diagnósticos de câncer cerca os parentes de Lula, que, desde cedo, acostumou-se a lidar com a doença. Segundo a biógrafa do ex-presidente, Denise Paraná, autora do livro Lula, o filho do Brasil, a família Silva já encara a doença há pelo menos duas gerações. “A dona Lindu teve câncer no útero e metástase. Os tios de Lula também enfrentaram tumores”, conta Denise.
Jaime, irmão de Lula, também teve câncer na laringe, mas ainda não se sabe se do mesmo tipo do que atinge o ex-presidente. Lulinha, filho do pai de Lula, seu Aristides, morreu vítima de um câncer no cérebro. Outra irmã, Maria, teve um tumor no seio e se curou. Segundo Denise, a irmã mais velha, Marinete, descobriu a doença num estágio muito avançado. “Fez todos os tratamentos possíveis, mas era muito agressivo”, explicou a biógrafa, que aposta no sucesso do tratamento de Lula: “Ele passou no grande vestibular da vida do sertanejo, que é não morrer antes dos 3 anos. Vai tirar essa de letra”.