Jornal Estado de Minas

Cigarro e álcool são as principais causas de câncer na laringe

Paloma Oliveto

A combinação tabaco e álcool, dois produtos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca negou apreciar, é a principal causa de câncer de laringe, um tumor que, na avaliação de oncologistas, é altamente prevenível. Quando detectada precocemente, as chances de a doença desaparecer são de 80% e, para isso, é necessário ficar atento ao sintoma mais importante: uma rouquidão sem causa aparente, que persiste por mais de duas semanas. Um exame simples realizado em consultório, a laringoscopia, é capaz de encontrar tumores no órgão da fala.

 

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De acordo com Paulo Hoff, oncologista do Hospital Sírio-Libanês que fez o exame no ex-presidente, “o prognóstico para esse tipo de câncer é muito bom”. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas afirmam que as chances de cura de um tumor maligno na laringe são realmente grandes, mas tudo depende do tipo de célula envolvida e do estágio em que a doença se encontra.

O oncologista Murilo Buso, do Centro de Câncer de Brasília, explica que três aspectos estão envolvidos na escolha do tratamento mais adequado e nos prognósticos do paciente. O primeiro é o tipo histológico, que, no caso da laringe, costuma ser carcinoma epidermoide. O segundo é a localização exata do tumor e, por último, os médicos avaliam o estágio em que ele se encontra. Basicamente, o câncer de laringe pode ser diagnosticado quando atinge apenas um tecido específico; localmente avançado, quando também se espalha para os próximos linfonodos; e metastático. Para cada situação, há um tipo de tratamento adequado.

Segundo o oncologista Igor Morbeck, para garantir o sucesso da terapia, é essencial que os sintomas iniciais não sejam ignorados. “A rouquidão é um dos primeiros sintomas do câncer de laringe. É um tipo de rouquidão que persiste por mais de duas semanas ou 30 dias. Com o exame de laringoscopia, dá para avaliar se há uma lesão no local”, informa.

No quadro inicial, Murilo Buso afirma que a estratégia é fazer uma cirurgia, se o tumor for pequeno. “Mas a laringe já é um órgão pequeno, então, mesmo se o tumor tiver 1cm, é considerado grande”, diz. Morbeck lembra que os médicos sempre procuram preservar o órgão; por isso, alguns optam por combater o tumor com radioterapia, método que emite radiação ionizante no local do câncer, matando as células malignas.

Já quando os linfonodos próximos da laringe também foram atingidos, caso do câncer localmente avançado, a cirurgia pode ser extremamente radical, por isso é evitada ao máximo. Os médicos costumam optar pela quimioterapia primeiramente. “Depois, avalia-se o padrão de resposta. Se os linfonodos não desaparecerem, é preciso fazer cirurgia seguida de radio e quimioterapia. Nesse estágio, ainda há chances de cura”, diz Buso. O caso mais grave é quando as células malignas migram para outros órgãos. Nessas situações, não se fala mais de cura, apenas de controle da doença. A incidência de metástases, porém, é pequena em tumores malignos da região da cabeça e do pescoço.

Murilo Buso conta que, ao contrário de outros tipos de cânceres, o de laringe costuma ser detectado cedo. Isso porque, diferentemente do tumor de pâncreas, por exemplo, que vitimou recentemente o cofundador da Apple Steve Jobs, o câncer de laringe não é silencioso. O paciente sente um incômodo logo que o tumor aparece, o que o leva a procurar o consultório.

O mais importante, Buso insiste, é que esse tipo de doença pode ser evitável. “Ela está diretamente ligada ao tabagismo e à ingestão de bebidas alcoólicas.” Igor Morbeck conta que o vírus do papiloma humano (HPV), quando presente na região da cabeça e do pescoço, também pode desencadear o câncer. “Mas é muito mais comum que o câncer esteja associado a esses dois hábitos”, esclarece.