Jornal Estado de Minas

Brasil elege poucos negros, enquanto Minas tem mais deputados que se declaram negros

Levantamento mostra que o número de deputados estaduais, federais e vereadores que se definem como preto ou pardo é proporcionalmente insignificante em relação à população

Leonardo Augusto

Minas Gerais é o estado brasileiro com maior número de deputados estaduais – cinco no total – que se declaram negros, conforme pesquisa divulgada ontem pela União de Negros pela Igualdade (Unegro), realizada em parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). O número é superior até mesmo ao registrado pelo levantamento na Bahia: quatro. O estado nordestino possui, proporcionalmente, o maior contingente nacional de negros na comparação com a população global do estado.

Conforme definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca (IBGE) o grupo negros é formado por quem se define como preto ou pardo. Na Bahia, a soma das duas raças totaliza 10,6 milhões de habitantes para uma população total de 14 milhões (75%). Em Minas os negros são 10,4 milhões para 19,5 milhões de moradores (53%).

O levantamento foi feito entre fevereiro e outubro e se baseou em consultas realizadas aos próprios parlamentares ou assessores. No topo da lista, ao lado de Minas, com o mesmo número de deputados estaduais que se definiram como negros, estão Rio de Janeiro e Pernambuco. Os parlamentares mineiros que afirmaram ser pardos ou pretos são Anselmo José Domingos (PTC), Carlin Moura (PC do B), Carlos Henrique (PRB), Célio Moreira (PSDB) e Pinduca Ferreira (PP). A Assembleia Legislativa de Minas Gerais possui 77 cadeiras. A da Bahia, 63. Rio de Janeiro e Pernambuco têm 70 e 49, respectivamente.

Segundo o presidente da Unegro em Minas, Alexandre Braga, a participação da população negra na política no Brasil é praticamente insignificante. “Somos em torno de 53% dos moradores do país. Existe um apartheid social separando brancos e negros quando a questão é o processo eleitoral”, avalia Alexandre.

Vereadores Unegro e Ufop apuraram também o número de parlamentares negros nas câmaras municipais das capitais e na Câmara dos Deputados. Entre as cidades, Salvador lidera o ranking dos vereadores que se declaram negros: 18. Belo Horizonte soma quatro: Edinho do Açougue (PT do B), Geraldo Félix (PMDB), Paulinho Motorista (PSL) e Neusinha Santos (PT). As câmaras da capital mineira e de Salvador possuem 41 cadeiras cada.

O presidente da Unegro-MG acredita que a lacuna entre brancos e negros engajados na política no Brasil deverá ser reduzida pelas próximas gerações. “A primeira ação é o recrutamento de um maior número de jovens negros pelos movimentos sociais”, defendeu.

Brasília Na Câmara dos Deputados, os parlamentares de Minas que afirmaram ser negros são Gilmar Machado (PT), Leonardo Monteiro (PT), Miguel Corrêa Júnior (PT), George Hilton (PRB) e Mário de Oliveira (PSC). O estado tem 53 vagas na câmara. O estado com maior número de negros é o Rio de Janeiro 7, para 46 cadeiras na Casa. A Bahia tem seis, de um total de 39 deputados em Brasília.

Entre os negros que já ocuparam postos de destaque na política brasileira, citados pela pesquisa, estão Alceu Collares, governador do Rio Grande do Sul de 1991 a 1994, Albuíno Azeredo, governador do Espírito Santo no mesmo período, Celso Pitta, prefeito de São Paulo de 1997 a 2000, e Benedita da Silva, que governou o Rio de Janeiro em parte de 2002 com a renúncia de Anthony Garotinho para disputar as eleições presidenciais.

 

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