Em um pen drive, que o acompanha por onde vai, ele carrega informações sobre rastreamento de bens que a corrupção desviou e os caminhos para a repatriação. Durante largo período, de 2002 a setembro de 2010, sua função era fundamentalmente reprimir - então chefe da unidade mais famosa da PF, a Delefin (Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros), ele comandou importantes missões. Por exemplo, a devassa no Banco Santos, que culminou com a condenação de Edemar Cid Ferreira a quase 20 anos de prisão; a segunda etapa da Operação Satiagraha, afinal trancada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); e o cerco incessante a empresários, doleiros, políticos e servidores públicos citados por peculato e fraudes.
Sua arma, agora, é a diplomacia, pois lhe compete negociar acordos e coordenar a execução da cooperação internacional. Também cabe a ele fazer prevenção à lavagem de dinheiro e ao crime organizado transnacional. A meta maior, diz, é “tirar o dinheiro do cara, não é simplesmente prender porque não adianta”.
Saadi é um profissional empolgado com o que faz. Defende enfaticamente a cooperação como caminho eficaz para o retorno de capitais que escaparam do País pelo ralo da malversação. Porém, ele não consegue disfarçar a decepção com os resultados do Brasil, marcado pela eternização das demandas judiciais. Isso, admite, já o fez passar constrangimentos.
Vergonha
Ele alerta que autoridades da maioria dos países onde o DRCI mapeia recursos sugados da União exigem que os alvos tenham sido condenados definitivamente aqui - mas não há registro de que alguma corte por estas bandas tenha dado veredicto final a processo contra corrupto. “Passei uma vergonha tremenda nos Estados Unidos”, relata Saadi. “Para manter o bloqueio de US$ 450 milhões de um banqueiro me perguntaram quando teria o trânsito em julgado. Eu disse: não sei. A gente tem que botar a mão na consciência.”
“Eu trabalhei na Delefin, participei de várias operações, evasão lavagem. Quantas vocês imaginam que teve trânsito em julgado? Zero, nenhuma. Isso é um grande problema. Mais da metade da população carcerária está presa por roubo e furto”.
Desde 2004, quando foi criado, o DRCI registra ano a ano os casos de corrupção comunicados ao exterior. Em 2006 o número de processos dessa natureza bateu em 23. Em 2009, caiu para um único procedimento. “Olha que coisa esquisita. Por que será que isso está acontecendo? O corrupto vai guardar dinheiro no Brasil? Ninguém guarda o dinheiro aqui, é na Suíça, em Cayman, nas Ilhas Virgens”.