(foto acima). Com seis filhos, eles recebem mensalmente R$ 230 do Bolsa-Família. Desde que saíram do Paraguai, vivem em uma casa simples na aldeia Ocoy, na Reserva Indígena Avá-Guarani, em São Miguel do Iguaçu, no Paraná, na fronteira com o Paraguai. Ambos falam muito pouco o português, se comunicam no idioma guarani e usam um pouco o “portunhol”.
A maneira convencional de nacionalização exige que o índio more no país por pelo menos cinco anos e uma série de documentos que provem o vínculo com o Brasil. Quando conseguem o Rani tudo é mais rápido. Podem obter a certidão de nascimento e, na sequência, a carteira de identidade, título de eleitor e CPF. Assim, se cadastram nas prefeituras para receber o Bolsa- Família e também se habilitam para a aposentadoria rural e o auxílio-maternidade, um salário mínimo pago durante seis meses para a mãe.
Método Na aldeia Bom Caminho, em Benjamin Constant, no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru e a Colômbia, vinte famílias de índios peruanos e colombianos, integram a comunidade com pouco mais de 800 índios tikunas. Eles são a maior etnia indígena do país: 36 mil. Também estão na Colômbia (8 mil) e Peru (7 mil). O cacique Américo Ferreira diz que só aceita na aldeia índios tikuna e que os “brancos” colombianos, que tentaram se instalar em Bom Caminho tiveram que retornar. “Faço uma reunião com a comunidade, pergunto se podemos aceitá-los, para saber se eles não estão fugindo de algum crime e se eles querem ficar e morar. Só assim permitimos”, explica o cacique, que detalha ainda a como os índios passam a receber os benefícios: “Tiramos o documento (Rani) dos pais primeiro e depois dos filhos”.
Um dos beneficiados é o tio do cacique, Miguel Gomes Perez, que nasceu e viveu a maior parte dos 62 anos na Colômbia. De acordo com Américo, o tio se mudou para o Brasil quando a mulher o largou. Em poucos anos, escolheu a via mais fácil para se naturalizar. Fez o primeiro registro como brasileiro e conseguiu a aposentadoria especial para trabalhador rural, que é concedido após os 60 anos mesmo a quem não contribuiu com a Previdência Social. Miguel vive sozinho em uma casa de madeira na aldeia Bom Caminho. Antes morava em Barrelio, comunidade indígena de Letícia, na Colômbia. Para complementar o salário mínimo que recebe de aposentadoria, faz artesanato. Não fala português e se comunica com os indígenas em tikuna.
Em Bom Caminho também mora a família do casal peruano Ortega Pereira Torres e Jurandina Parente Adan. Jurandina diz que os R$ 166 que recebe do Bolsa-Família são fundamentais para a sobrevivência. O casal tem seis filhos e sem o benefício dado pelo governo brasileiro não poderia comprar itens de primeira necessidade, como leite, café e frango, além de sapatos e cadernos para as crianças frequentarem as aulas. O rápido processo de nacionalização foi conseguido graças ao Rani forjado.
No Sul do Brasil, na aldeia Ocoy, a realidade não é diferente. O cacique Daniel Maraka Lopes diz que quase metade da aldeia é formada por paraguaios. Em Ocoy vivem 690 índios guaranis, sendo cerca de 70 famílias brasileiras e 70 paraguaias. Porém, a origem não impede que os estrangeiros recebam o benefício. “Quem não tem o documento brasileiro está fazendo de tudo para conseguir”, afirma o cacique. Há cinco anos a aldeia tinha 560 índios, o que representa um crescimento populacional de 23%. A fronteira mais próxima com o Paraguai é em Foz do Iguaçu, distante 60 quilômetros da aldeia. Entretanto, basta atravessar o lago formado pela hidrelétrica de Itaipu que na outra margem é o Paraguai. “Somos todos parentes. Além disso, quando aconteceu a inundação (em 1983) muitos foram para o Paraguai e ficou tudo misturado”, justifica o cacique.