A inocência, aliás, mora longe de Umariaçu. No final do mês passado a Polícia Federal prendeu na aldeia dois colombianos com diversas armas e munições de grosso calibre. O arsenal era composto por lançador de granada, mais de uma dezena de granadas, fuzis 762 de fabricação belga, sendo que um deles tinha o emblema do exército peruano. Tinha também submetralhadora .40 e centenas de munições. De acordo com a Polícia Federal, os presos trabalhavam para o narcotraficante peruano Jair Ardela Michue, conhecido como Javier, um dos maiores traficantes da tríplice fronteira e que foi preso em março deste ano. Um dia depois mais armamento também foi encontrado em Belém do Solimões, outra aldeia indígena tikuna.
O delegado da Polícia Federal de Tabatinga, Gustavo Pivoto, afirma que o aliciamento de indígenas por organizações criminosas é intenso na região. Índios são usados para transportar drogas e armas e despistar a ação da polícia. O atrativo é sempre o mesmo: dinheiro. “O indígena está contaminado com os valores dos que não são indígenas”, avalia o professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Sebastião Rocha de Souza, que faz parte da coordenação que prepara professores indígenas do Alto Solimões e convive com as aldeias da região há 11 anos.
Aldeia de braços cruzados
A entrada de recursos na aldeia não traz somente pontos negativos. O professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) Sebastião Rocha de Souza percebe modificações com o aumento dos benefícios para os índios. “Eles começaram a exercer a cidadania, mas também adquiriram o vício de ficar esperando a ajuda chegar”, pondera o professor. De acordo com ele, muitos índios deixaram de pescar, fazer artesanato e até de se dedicar à agricultura, contando exclusivamente com o amparo do governo. “Muitos passaram a fazer questão de engravidar para conseguir o dinheiro do auxílio-maternidade”, lamenta o educador.
O interesse dos indígenas pelo benefício é grande. No final da tarde de terça-feira o vice-cacique da aldeia Umariaçu, Gustavo Ferreira Perez, convocou pelo alto-falante instalado na varanda de sua casa uma reunião para que os índios conversassem com a reportagem do Estado de Minas sobre o assunto. Em poucos minutos quase uma centena de índios apareceu.
A falta de informação atinge até as autoridades da aldeia. O vereador Sebá Nogueira, que é tikuna, está injuriado com o programa. Sua esposa recebia o benefício, mas meses depois que ele assumiu o cargo no Legislativo – com salário de R$ 3.740 –, parou de receber. Quando o repórter disse ao vereador que o motivo foi ter saído da faixa de renda considerada apta pelo governo federal ele reagiu: “Então é verdade que eu não vou poder ganhar mais o Bolsa-Família?” O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) prepara uma cartilha escrita em tikuna com todos os detalhes do programa.