Jornal Estado de Minas

Visita do secretário-geral da Fifa ao Brasil começa nesta segunda-feira

Expectativa é de negociação dura sobre leis para o Mundial

Paulo de Tarso Lyra

A primeira visita do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ao Brasil depois do encontro com a presidente Dilma Rousseff em Genebra e a posse do novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, está cercada de silêncio e tensão. Valcke chega hoje a São Paulo para participar de reunião na Assembleia Legislativa de São sobre obras de mobilidade urbana. Deve visitar as obras do Itaquerão, estádio que abrirá a Copa do Mundo de 2014 e só agora teve as obras iniciadas. Amanhã, ele e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, participam de audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, para discutir a Lei Geral da Copa e seguem logo depois para um almoço — com a presença de Aldo Rebelo e todos os ministros envolvidos diretamente com a Copa — na casa do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Também será o primeiro encontro depois do acirramento da queda de braço entre o governo brasileiro e a entidade máxima do futebol. Os dois lados disputam uma guerra de bastidores em torno da meia-entrada para idosos e estudantes no Mundial — a Fifa até concordou em ceder no primeiro caso, mas não abre mão no segundo –, venda de bebidas alcoólicas nos estádios e pena para quem piratear produtos com a marca Fifa, entre outros pontos.

A agenda pode ser pública, mas as partes envolvidas foram cautelosas ao divulgar o que será tratado nos encontros. Aldo Rebelo pediu para examinar todos os processos em andamento na pasta. Procurado pela reportagem, avisou, pela assessoria, que a “bola está no Congresso, com a votação da Lei Geral da Copa”. E que neste primeiro momento, a prioridade é escolher a sua equipe no ministério. “Se eu estivesse procurando alguém para o primeiro emprego, seria mais fácil. Mas preencher as vagas no ministério requer pessoas mais experientes e isso dá mais trabalho”, brincou.

Na semana passada, alguns integrantes da Comissão Geral da Copa, da Câmara dos Deputados, chegaram a sugerir que Aldo também participasse da audiência pública na Casa. A tropa de choque agiu rápido afirmando que, publicamente, as posições do governo sobre a Lei Geral já haviam sido expressas pelo ex-ministro Orlando Silva. Com isso, o atual ministro só terá como agenda ao lado de Valcke o almoço na residência oficial de Marco Maia.

Procurada pela reportagem, a assessoria da Fifa foi lacônica: “Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, participará de reuniões com o governo brasileiro em Brasília entre 7 e 8 de novembro. Entre outros compromissos, Valcke também se encontrará com o ministro do Esporte Aldo Rebelo para dar continuidade à preparação conjunta da Copa das Confederações da FIFA 2013 e da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”. Em entrevista à impresa, Valcke, porém, já havia dito recentemente que o Brasil não vencerá a Fifa nessa disputa de regras para o Mundial.

SOBERANIA
A presidente Dilma Rousseff tem dado repetidos sinais de que não vai aceitar que a legislação nacional seja desrespeitada apenas para que a Copa de 2014 ocorra no Brasil. Ela disse isso claramente no discurso pronunciado durante a posse de Aldo Rebelo, na segunda-feira da semana passada. Aldo entendeu o recado e respondeu as críticas feitas por Valcke. “Não queremos confronto com a Fifa, mas não queremos submissão”, declarou.

Relator da Lei Geral da Copa no Congresso, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), que raramente se furta a conceder entrevistas sobre o parecer que formula, preferiu o silêncio. Ele disse que muitas matérias sobre a Lei Geral da Copa e os enfrentamentos com a Fifa foram divulgadas nas últimas semanas e preferia aguardar para ver, pessoalmente, os questionamentos e as ponderações que serão feitos pelo secretário-geral da entidade.

O presidente da Comissão Geral, deputado Renan Filho (PMDB-AL), torce para que as dificuldades sejam vencidas o mais rapidamente possível. Ele lembra que a Fifa já concordou com a meia-entrada para os idosos e que, apesar da resistência quanto à extensão do benefício também para os estudantes, avança-se no sentido do estabelecimento de uma cota, que pode ser de 15% a 20%, na carga máxima dos ingressos para ser vendido dessa forma. “Vamos assegurar os direitos da Fifa e eles vão respeitar a nossa soberania”.