Jornal Estado de Minas

Em dia de futebol, parlamentares usam o Twitter para se aproximar do eleitor

Juliana Cipriani
No país do futebol, o assunto não pode faltar nas rodas de amigos e acaba sendo uma forma de aproximar ou socializar até mesmo desconhecidos. Tanto que nem mesmo da política o esporte sai de pauta. Antes usado apenas em metáforas na hora de dar declarações ou mandar recados aos eleitores, aliados ou adversários, o tema agora virou notícia na boca de deputado, ministro e até governador, que fazem as vezes de comentaristas esportivos nas redes sociais.
Em meio a temas espinhosos como denúncias de corrupção, articulações para votação de propostas, desempenho de políticas públicas ou mesmo a guerra entre governo e oposição, em que são chamados a se posicionar, sempre encontram um tempo para tuitar as impressões sobre os jogos dos times. Algum deles, aliás, revelam a preferência no futebol na própria descrição do perfil, na sequência do cargo político ocupado.

É o caso do governador do Sergipe, Marcelo Déda (PT), que se descreve como governador, advogado e flamenguista no Twitter. Mesmo com o time entre os primeiros classificados do campeonato brasileiro, o petista não escondeu o alívio quando o rubro-negro empatou no primeiro tempo com o Cruzeiro: “Deivid resolve por ordem no jogo. Até que enfim!”. No fim da goleada: “Cinco! Grande partida do Flamengo”.

Na semana passada, na derrota por 4 a 2 para o Grêmio, o ânimo era outro na rede. Também flamenguista, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) lamentava: “jamais levava de 4 tendo 2 gols de vantagem”. Ontem, ensaiou versos sobre a rodada. “Os de cima caem, os de baixo vencem. Não é frase de profeta bíblico. É o Campeonato Brasileiro de Futebol.” Outro flamenguista, o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) parece ter se desconectado da rede no momento certo na semana passada, na derrota para os gremistas. “Paro por aqui para ver o Mengão, que está ganhando do Grêmio na casa deste”. Em seguida, silêncio.

Um dos mais frequentes comentaristas virtuais é o presidente licenciado do PT nacional e ex-senador José Eduardo Dutra. Eternamente Botafogo, como se descreve em seu perfil no microblog, torcia na semana passada para o Corinthians perder do Avaí, para aproximar seu “Fogão” do líder do campeonato. Desistiu, no entanto, depois que o time do ex-presidente Lula (PT) prestou solidariedade na rede social ao torcedor ilustre, depois do anúncio de que ele estava com câncer. “Estamos a 3 pontos do líder. Depois da homenagem que o Corinthians prestou ao Lula fiquei com dor de consciência pra secar”, postou. Ontem, comemorou a vitória do América sobre o Corinthians. “Grande Coelho! Um abraço ao meu amigo e ex-ministro Luiz Dulci, um dos três torcedores do América que conheço”.

FIEL Quem também comentou sobre o Timão foi o ministro da Saúde e torcedor, Alexandre Padilha (PT), que no fim de semana tuitou em homenagem ao Corinthians: “A Fiel já está concentrada. Entrei em um padaria em São Bernardo do Campo e o balconista estava assobiando o hino do Timão. Pedi um café, só em homenagem”, comentou. Colega de ministeriado, o novo titular da pasta do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), palmeirense, tem sido mais saudosista na rede. “Lembro dos grandes clássicos do Palmeiras x Inter”.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) se declara tricolor (torcedor do São Paulo) no Twitter e aproveitou o microblog para criticar a atuação do time contra o Bahia: “Ganhando de 3X1 até a metade do 2º tempo, ainda consegue perder de virada. Tá difícil, esse São Paulo!”

Tuiteiro frequente das partidas de futebol, o ex-governador palmeirense José Serra (PSDB) anda sumido depois que o time despencou na tabela. No último jogo que comentou, em meados de outubro, se conformou com um empate do time com o Flamengo. “Não ficou mal para o meu time. Pelo menos o Verdão ganhará um campeonato neste ano: o dos empates”.


Rivais longe do plenário



As brincadeiras com futebol são uma forma de diálogo entre os próprios políticos, que se arriscam até mesmo nos gramados em jogos amadores. “Tem muito esse lado provocativo, como a própria disputa política. É comum uma troca de visões, sempre com uma ironiazinha de acordo com a preferência”, conta o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que diz interagir com outros políticos, como o senador flamenguista Randolph Rodrigues (PSOL-AP), o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), torcedor do Inter, e o deputado botafoguense Stepan Nercessian (PPS).

Chico Alencar diz que não fala de futebol como tática de aproximação com os seguidores, mas por fazer parte de sua vida. “Política e vida particular não podem ser dissociadas. Claro que tem uma esfera mais pessoal que a gente preserva, mas é legal e dá até uma face mais humana. Tem gente que acha que nós só pensamos em política, e não é assim. Eu jogo futebol com os amigos no campinho”, diz.
O deputado federal mineiro Miguel Corrêa (PT), torcedor do Cruzeiro, começou o dia ontem no microblog assim: “Gosto muito do domingo... Filme, família e futebol”. Durante a partida entre Flamengo e Cruzeiro, no Rio, lamentou: “Tinha muito tempo que não sofria tanto! Não temos sorte e falta confiança ao time”.

Aliado político de Miguel, mas rival no futebol, o deputado estadual mineiro Carlin Moura (PCdoB) também não perde a chance de comentar quando o Atlético está ganhando. “É o time da virada. O Galo é o time do amor. Não sou só deputado. Sou pessoa do povo, torcedor, morador, e, no Twitter, procuro dar essa imagem”, afirmou. Diante da rivalidade dos times, Carlin diz não temer a perda de votos em função da escolha no futebol. “Não tenho de esconder meu jeito de ser, o fato de eu mostrar faz com que o eleitor possa confiar, mesmo que eventualmente eu não torça para o time dele”, afirmou. (JC)