Rio de Janeiro - O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (FHC), disse, nesta segunda-feira, que não se surpreendeu com a denúncia sobre cobranças de propinas no Ministério do Trabalho. “Espero que a Dilma [Rousseff] continue limpando [o governo], porque está muito ruim. Mas não me surpreende porque toda a política está metida de tal maneira nesse jogo de favorecimentos e benesses, que é uma pena”, disse o ex-presidente.
A declaração foi dada logo depois que FHC deixou o encontro organizado pelo Instituto Teotônio Vilela, onde a cúpula do PSDB se reuniu para discutir propostas para uma agenda para os próximos 20 anos.
Durante o evento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que o partido tem o dever de denunciar, mas também propor soluções para o país. O senador lamentou a acusação de que 75% dos cargos de livre provimento no Ministério dos Esportes tenham sido ocupados por “militantes do partido e não por pessoas que tenham qualquer familiaridade com o tema”. Aécio Neves defendeu um “choque de profissionalização” na Administração Pública Federal e uma nova postura do governo.
“É preciso que o governo pare de reagir apenas às denúncias da imprensa e passe a agir internamente e dê demonstrações claras de que quer enxugar a máquina pública, quer diminuir os gastos correntes e investir, efetivamente, em gestão pública de qualidade que não vemos no Brasil nos últimos anos”, disse o senador tucano.
Em relação ao sistema previdenciário brasileiro, o economista Marcelo Caetano, identificou pontos que precisam ser debatidos para preparar o país para 2050, quando a projeção é que o número de pessoas com mais de 60 anos, que hoje representam 10% da população, passe a 35% dos brasileiros. “Vai ficar cada vez mais caro porque as pessoas estão envelhecendo. Mas a Previdência vai ter que continuar existindo, mas são necessários alguns ajustes para que a sociedade consiga se adaptar e não pagar cada vez mais impostos ou sacrificando gastos em outras áreas relevantes, como saúde e educação”.
Para Marcelo Caetano, o governo tem que reavaliar as idades de aposentadoria que ainda são muito baixas na opinião do especialista, além de repensar diretrizes sobre benefícios como pensão por morte e a vinculação do valor de aposentadoria com a política de ganho real do salário mínimo. O economista, que destacou que hoje são gastos 12% do Produto Interno Bruto (PIB) para sustentar o sistema, lembrou ainda que é preciso repensar os benefícios do funcionalismo público.
“Existem aposentadorias muito elevadas quando você olha o serviço público, são aposentadorias de R$ 15 mil, em média. Tudo bem que as pessoas se aposentem com esse valor, mas isso não deve vir do Orçamento do governo, deve vir de sua própria poupança. É preciso uma reforma, com criação de previdência complementar do serviço público. O próprio governo federal, sabiamente, vem tentando fazer, assim como alguns governos estaduais e municipais”, disse o economista.