Os funcionários demitidos do gabinete do vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) pretendem representar na Justiça contra o prefeito Marcio Lacerda (PSB). O motivo foi a nota divulgada pela prefeitura que justificou a exoneração dos servidores alegando o não cumprimento das suas “funções em consonância com a administração municipal”. A demissão na sexta-feira de 17 servidores que trabalhavam no gabinete da vice-prefeitura ampliou a crise entre PT e PSB e expôs publicamente o racha entre Lacerda e Carvalho devido à sucessão municipal. Ontem servidores demitidos, militantes e dirigentes do PT se reuniram na sede do partido e aprovaram uma resolução com duras críticas ao governo de Lacerda e cobrança de abertura de diálogo. Na quinta-feira será feito um ato de desagravo aos demitidos na sede da legenda com a presença de representantes de outros partidos e também dos movimentos sociais.

A exoneração – seguida da extinção dos cargos de assessoramento ao vice-prefeito, criados durante a gestão do hoje ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT), publicada no Diário Oficial do Município no sábado – tem sido explorada dentro do PT pelos opositores da reedição da aliança com Lacerda. Roberto Carvalho defende candidatura própria do PT à sucessão de Lacerda e vem costurando o apoio do PMDB, PDT e PTB. Lacerda quer disputar a reeleição com o apoio do PSDB, partido que fez parte da aliança que o elegeu em 2008, e do PT, mas enfrenta a resistência do vice, que preside o partido na capital mineira e não aceita a presença dos tucanos na chapa.

Resistência Petistas aliados ao prefeito garantem que todos os demitidos serão reconduzidos para outros cargos. Os adversários negam que isso esteja previsto e adiantam que a maioria dos demitidos não vai aceitar a renomeação. Lacerda deixou o gabinete do vice-prefeito com a estrutura mínima prevista em lei, que garante seis funcionários, incluindo garçom e motorista. Os cargos a mais criados durante a gestão de Pimentel por meio de um decreto foram extintos.

“O que aconteceu foi uma afronta ao partido e não ao vice-prefeito e também um desrespeito com os funcionários do gabinete”, reclama o secretário-geral adjunto do PT de Belo Horizonte, Geraldo Arcoverde. Segundo ele, várias medidas vão ser adotadas contra essa atitude, entre elas o ajuizamento de ações na justiça contra o prefeito pelos demitidos. “A nota do prefeito diz que essas pessoas não trabalhavam”, lembra Arcoverde.

“O prefeito disse que a gente ficava fazendo política no lugar. Fazíamos política sim, política pública para a prefeitura que ele administra”, afirma um dos demitidos, Moisés Ramos da Silva, que promete acionar Lacerda na Justiça.

Outros dois exonerados, Walquírio Silva e Gilson Matuzinhos, presentes na reunião, também reclamaram das demissões e, mais ainda, da nota da prefeitura. Segundo Gilson, o gabinete do vice-prefeito tinha poucos servidores para atender toda a demanda. “Eu trabalhava na prefeitura há 12 anos. Fui diretor de controle urbano da Regional Barreiro, fui da gerência do Orçamento Participativo e atualmente trabalhava, e muito, no gabinete do vice. O que o prefeito fez com a gente foi, no mínimo, deselegante”, afirma.

Lacônico

O prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, foi lacônico ao comentar as demissões dos assesores do vice-prefeito. “O caso está encerrado”, disse ele. Já o presidente estadual do PSB, Walfrido Mares Guia, acredita que o episódio não vai atrapalhar as articulações para reeditar a aliança entre PT, PSB e PSDB, vitoriosa em 2008. “As demissões foram administrativas, não foram políticas”, desconversou.