Jornal Estado de Minas

Deputado do PTB quer reforçar Conselho de Ética para apurar venda de emendas em SP

AgĂȘncia Estado
Após ter trabalhado no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa para emperrar as investigações de venda de emendas parlamentares, o deputado Campos Machado (PTB) conseguiu 32 assinaturas e protocolou uma proposta de emenda constitucional que dá ao órgão os mesmos poderes de uma CPI.
Na última quinta-feira, o conselho aprovou o fim das investigações sobre venda de emendas após tomar apenas um depoimento e de rejeitar a maioria dos requerimentos. O autor do pedido que colocou um ponto final nas apurações foi o próprio Campos Machado, que liderou a tropa governista e sugeriu que o material colhido fosse enviado ao Ministério Público. O argumento era o dos limitados poderes do órgão, que não pode intimar pessoas nem pedir quebra de sigilo, por exemplo.

“Estamos dando a resposta que a sociedade gostaria em relação à Assembleia”, sustenta o deputado. “Estamos pegando um Conselho de Ética praticamente sem sentido, despido de todo e qualquer instrumento, e estamos dando, pela primeira vez, os instrumentos de uma CPI.”

Questionado pela reportagem sobre o fato de estar na Assembleia desde 1990 e somente agora ter apresentado o projeto, o líder petebista retrucou: “Nesses 21 anos só surgiram dois casos, o do deputado Hanna Garib (cassado por envolvimento com a máfia dos fiscais) e este agora”. Ele alegou que é a primeira legislatura em que participa do conselho. “Quando vivi o problema é que vi que a gente não tinha a menor condição de atuar.”

Deputados de vários partidos assinaram a proposta. O líder do PSDB, Orlando Morando, afirmou que vai discutir o assunto com a bancada tucana. “A priori não vejo com legitimidade. Se você tem o elemento da CPI, não vejo razão para criar um elemento que embaralhe as coisas.”

Ênio Tatto, líder do PT, diz ver a medida com ceticismo. “Não sei porque fazer uma PEC se ele reconhece que uma CPI tem outros poderes”, disse. “Talvez seja uma saída para a péssima maneira que o deputado se comportou no conselho de ética.”

Constitucionalidade


O professor de Direito da PUC-SP Pedro Serrano considera a proposta inconstitucional. Segundo ele, pelo princípio da simetria, os Estados devem seguir, na divisão dos poderes, a Constituição Federal, que atribui ao Legislativo poderes próprios do Judiciário apenas para comissões provisórias com objetivo de investigar um fato específico. Segundo ele, não é o caso do Conselho de Ética.

Já Daniel Sarmento, professor de Direito Constitucional da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), afirma que, embora o Supremo venha decidindo pelo princípio da simetria, não vê inconstitucionalidade.

“Os Estados devem ter bastante espaço para se organizar de acordo com as suas peculiaridades. Em outros países prevalece o princípio do federalismo.”