Jornal Estado de Minas

PDT desmente versão do ministro Carlos Lupi

Presidente do diretório maranhense do partido afirma que a legenda não pagou o voo do ministro. Diretório nacional cobra novas explicações

Vinícius Sassine
- Foto: Quinho Brasília – Nem a calmaria na Esplanada durante o feriado foi suficiente para amenizar a turbulenta situação do ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT). Ontem, o pedetista voltou a cair em contradição no episódio da viagem em um avião supostamente patrocinada pelo dono da Fundação Pró-Cerrado, Adair Meira. Em entrevista ao Estado de Minas, o presidente do diretório regional do PDT no Maranhão, Igor Lago, afirmou que o partido não pagou pelo aluguel da aeronave que transportou Lupi, Adair e o então titular da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego (SPPE), Ezequiel Nascimento, para três cidades do interior do estado, em dezembro de 2009. Igor é filho do ex-governador do estado Jackson Lago, que morreu em abril – e que, na ocasião, acompanhou a comitiva do ministro. O ex-governador, que comandou o diretório do PDT no Maranhão até então, também não foi o responsável por pagar o voo, segundo Igor. “Posso afirmar que o partido não arcou com essas despesas de transporte aéreo. O PDT do Maranhão não pagou, não tem receita para isso.”
Ouvido em audiência na Câmara no dia 10, diante das suspeitas de cobrança de propina e de fraudes no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Lupi negou ter entrado em avião pago por Adair ou por qualquer outro empresário e disse que só embarcou em aeronaves custeadas pelo PDT: “Já andei em aviões que o PDT alugou para eventos da legenda. Todos são contabilizados e as contas prestadas”.

Depois da divulgação da informação sobre os voos para cidades do interior do Maranhão supostamente pagos por Adair Meira, Lupi se manifestou, por meio de nota publicada no site do ministério, no dia 12. Mais uma vez, o ministro atribuiu a responsabilidade pelo aluguel da aeronave ao partido. “Os deslocamentos realizados no Maranhão foram responsabilidade do diretório regional do PDT, do ex-governador Jackson Lago e do deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA)”, diz a nota do ministro, o único posicionamento oficial desde o dia 12. “A medida foi tomada para evitar que dinheiro público fosse utilizado na agenda.”

Surpresa Igor Lago, “como filho e dirigente partidário”, diz ter ficado “surpreso” com as declarações e a nota divulgada por Lupi, presidente nacional licenciado do PDT. Segundo ele, uma cópia dos gastos do partido no Maranhão foi solicitada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e será encaminhada ao diretório nacional e à Polícia Federal (PF), que passou a investigar o voo do ministro e do então secretário de Políticas Públicas de Emprego num avião que teria sido custeado pelo presidente da Fundação Pró-Cerrado.

“Terei amanhã (hoje) a prestação de contas do partido, registrada no TRE. Seguramente, não houve esse gasto com o aluguel do avião. Isso será confirmado, será esclarecido”, diz o presidente do diretório regional do PDT no Maranhão. Igor Lago afirma ainda que seu pai participou da comitiva apenas como convidado. “Era uma agenda executiva, de lançamento do Projovem, de programa de capacitação profissional”, diz Igor. “Meu pai era presidente do diretório do PDT no Maranhão e acompanhou o ministro, que é do mesmo partido.”

A presidência nacional do PDT em exercício espera para hoje as explicações sobre o voo no Maranhão. Coube ao deputado Weverton Rocha, ex-assessor especial de Lupi e suspeito de cobrança de propina de entidades contratadas pelo MTE, apresentar os detalhes da viagem feita com o presidente da Fundação Pró-Cerrado a bordo. “Esperamos os esclarecimentos, com informações sobre o plano de voo, por exemplo. Que tudo fique claro para o partido e para a opinião pública”, afirma o deputado federal André Figueiredo (PDT-CE), presidente em exercício da legenda e ex-secretário executivo do MTE na gestão de Lupi, entre 2004 e 2010. Por meio de sua assessoria de imprensa, o deputado Weverton Rocha informou que busca o plano de voo. “Ainda não conseguimos contato com o piloto.” A assessoria nada informou sobre a comprovação de que o PDT realmente pagou pelo voo, como ele sustenta desde o início do escândalo.

Aeronave Outra contradição do ministro Carlos Lupi foi sobre o tipo do avião usado para visitar as cidades do interior do Maranhão. Na nota divulgada no dia 12, ele negou ter embarcado num King Air, mas admitiu ter usado um modelo Sêneca. Fotos divulgadas por um site de Grajaú (MA), um dos municípios visitados em 2009, mostram Lupi desembarcando de um King Air. “O avião que aparece nas fotos é um King Air. O Sêneca é bem menor, tem motor convencional. O King Air é um turbo-hélice”, afirma o comandante Carlos Camacho, diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, que analisou as fotos a pedido do Estado de Minas. O presidente da Fundação Pró-Cerrado, Adair Meira, teria sido o responsável por custear o voo, segundo informação do ex-secretário Ezequiel Nascimento.

Um ministro enrolado

Para se livrar das acusações de graves irregularidades no cargo, Carlos Lupi apresentou explicações sistematicamente derrubadas:

“Não sei onde ele mora e nunca andei em avião dele”
Em depoimento na Câmara, no dia 10, Lupi negou ter embarcado em avião pago pelo dono da Fundação Pró-Cerrado.

A contradição
Reportagem mostrou que Lupi embarcou em avião supostamente pago por Adair Meira, o presidente da ONG, em dezembro de 2009.


“Eu não tenho nenhuma relação com o senhor Adair Meira”
A declaração ocorreu no mesmo depoimento prestado à Câmara. Lupi sempre afirmou desconhecer Adair e a Fundação Pró-Cerrado, apesar dos contratos de R$ 14 milhões da ONG com o ministério.

A contradição
Em entrevista, Adair afirmou que conhece o ministro e que esteve no avião providenciado por ele para o périplo pelo interior do Maranhão.

“A aeronave que acompanhava o ministro Lupi na agenda não se trata de um modelo King Air, mas do modelo Sêneca”
n Essa foi parte da explicação dada pelo ministro, em nota, para a denúncia de que usou um avião patrocinado por Adair.

A contradição
» Fotos divulgadas pelo site “Grajaú de Fato” mostram o ministro desembarcando de um avião King Air.

“Os deslocamentos realizados dentro do Maranhão foram de responsabilidade do diretório regional do PDT, do ex-governador Jackson Lago e do deputado federal Weverton Rocha”
Trecho da mesma nota tenta justificar quem pagou pelo aluguel do avião.

A contradição
Em entrevista, o presidente do diretório regional do PDT no Maranhão, Igor Lago, filho de Jackon Lago, disse que nem o diretório nem seu pai pagaram pelo aluguel da aeronave.