A decisão pelo afastamento, quebra de sigilo fiscal e indisponibilidade de bens de vereadores da Câmara de Belo Horizonte suspeitos de cobrar propina para aprovar a construção do Boulevard Shopping provocou um efeito fantasma ontem na Casa. Parlamentares citados na ação judicial que registraram presença no painel eletrônico na sessão iniciada às 14h30 não estavam no plenário meia hora depois. Casos de Hugo Thomé (PMN) e Maria Lúcia Scarpelli (PCdoB).
Outro suspeito de envolvimento no esquema, Carlúcio Gonçalves (PR), ao perceber a aproximação do fotógrafo do Estado de Minas, dentro do plenário, sacou o telefone celular e saiu por uma porta lateral, fugindo dos repórteres. No gabinete, dois andares acima, a informação era de que o parlamentar não havia chegado.
Ao contrário dos ex-colegas de parlamento, o encarnado ex-vereador Sérgio Balbino, autor da denúncia ao Ministério Público contra os parlamentares no esquema do Boulevard Shopping, conversou com a reportagem. O ex-parlamentar, que na decisão de ontem teve inegibilidade decretada, trabalha como motoboy e quer disputar as eleições do ano que vem para a Câmara. “Não fiz nada de errado. A sociedade só ficou sabendo de tudo porque eu denunciei”, diz. O parlamentar chegou a receber o dinheiro para aprovar o projeto, mas devolveu ao empreendedor do shopping. “Não tive ganho nenhum”, afirma. Balbino pretende recorrer da decisão para tentar voltar a ser vereador.
Trabalho para o MP
Com tantas diabruras, os vereadores de Belo Horizonte podem disputar o título de quem mais dá trabalho para o Ministério Público. Em 2010, o vereador Wellington Magalhães, à época no PMN, hoje presidente estadual do PTN, foi cassado sob a acusação de compra de votos nas eleições de 2008. O ex-parlamentar distribuiu sopa à população carente da região em que é votado, além de produzir um jornal com dados sobre obras que teria conseguido junto à prefeitura.
Rival de Magalhães por atuar na mesma base eleitoral, o espectro Geraldo Félix, então muito vivo, realizou no Dia das Mães deste ano um encontro para “prestação de contas do mandato”. Teve forró e distribuição de eletrodomésticos. No meio da festança, anunciou que três de suas proposições haviam se transformado em lei. O Ministério Público prometeu investigar a possibilidade de a festa ter sido uma tentativa escamoteada de compra de votos.
O vereador Gêra Ornelas (PSB) é o parlamentar da Câmara de Belo Horizonte que pode se considerar em situação mais delicada. Depois de gravar vídeos em que aparece de cuecas em seu gabinete e, em outras cenas, passando a mãos nos cabelos de uma mulher, teve o material enviado por ex-aliados ao Ministério Público, que o investiga por suposto envolvimento com corrupção de menores.
De boca mais fechada depois de uma operação para redução do estômago, o vereador Gunda (PSL) também poderia estar sob investigação do Ministério Público. No mês passado, o parlamentar organizou um churrasco em um sítio de Contagem para comemoração do aniversário de uma organização não governamental à qual é ligado. A camiseta, que servia como convite para a festa, foi vendida a R$ 80, o que dava direito a abraços, apertos de mãos e fotos com o parlamentar. Cerca de 500 pessoas participaram do churrasco. Nesse caso, para o Ministério Público, não houve qualquer tentativa atropelo da legislação eleitoral.