Termina nesta quinta-feira a eleição para o novo comando do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (DCE-UFMG), entidade que no ano que vem completa 80 anos. A nova direção só deve ser conhecida na madrugada desta sexta-feira , já que a votação se encerra às 22h. A disputa este ano está movimentando o câmpus devido à participação no processo eleitoral de uma chapa classificada como de direita pelos adversários, rótulo rejeitado pelos seus integrantes, que se autodenominam “apartidários”. Batizada oficialmente de Onda, sigla para O Nosso Diretório Apartidário, a chapa 5 vem causando polêmica na disputa por causa do discurso contra a participação de alunos militantes de partidos políticos no comando do diretório.
Em sua página no Facebook, a Onda critica a participação do DCE-UFMG em debates como a crise no Egito, considerado como “assunto externo à UFMG”. “Todas as demais chapas que concorrem são vinculadas a partidos, todas têm rabo preso com PT, PCR (Partido Comunista Revolucionário), PSTU, PSOL, PDT, entre outros”, diz um trecho do manifesto.
Um dos integrantes da Onda, o estudante de ciências socioambientais Evandro José Graton, 36 anos, disse que a proposta da chapa é contra uma gestão com viés próximo da extrema-esquerda. “Se alguém disser no DCE que tem simpatia pelo PSDB, é execrado”, exemplifica. Para ele, 90% dos estudantes não se interessam pelo processo eleitoral porque não se sentem representados. Na eleição passada, votaram cerca de 10% dos 3 mil estudantes da UFMG. A Onda não tem ligação com a chapa homônima de esquerda que conquistou nos anos 80 o comando do DCE e que movimentou a cena cultural e política da capital mineira.
Algodão Doce A nova Onda ofereceu show de rock e distribuiu algodão doce para alunos na saída do restaurante da universidade. “Disseram que a gente estava comprando voto. Não teve nada disso. Usamos desses recursos para chamar a atenção dos alunos.”, defende Evandro.
Integrante do atual diretório, Mateus Maltha, 25 anos, estudante de ciências sociais, diz que o discurso apartidário da Onda é de direita. “Ao longo dos tempos a direita vem perdendo espaço com a organização dos movimentos sociais e com o fortalecimento dos partidos. Esse discurso apolítico, em favor da não organização, é o discurso da direita, do fascismo”, rebate. Segundo ele, em honra à memória do ex-estudante da UFMG José Carlos da Mata Machado, que presidiu o diretório acadêmico da Faculdade de Direito e foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), morto pelo regime militar, é preciso rechaçar esse discurso. “Mata Machado lutou para que a gente pudesse ter eleição direta para o DCE , direito de pertencer a um partido político, entre outras coisas, por isso não podemos discriminar quem tem posição política ou é filiado a alguma partido”, defendeu.
A mesma crítica à Onda é feita pela estudante Isadora Scorcio, 19 anos, aluna de ciências sociais, integrante da Chapa Tempos Modernos, apoiada pela direção nacional da UNE. “Não ter posicionamento político a respeito de nada não tem jeito”. Para Mariah Mello, 25 anos, do curso de letras, que integra a chapa Há Quem Sambe Diferente, faz coro: “A gente fica preocupada com esse tipo de discurso, pois ele favorece os setores conservadores e enfraquece o movimento estudantil”.
Outros tempos
Política e efervescência cultural nos anos 1980
Baptista Chagas Almeida
Onda já foi nome de uma chapa vitoriosa na disputa pelo comando do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais. Era formada por um grupo de estudantes independentes ou anarquistas. Foi responsável pelo resgate do DCE Cultural, que funcionava na rua Gonçalves Dias, onde hoje está o Cinema Belas Artes. O DCE trouxe, pela primeira vez a Belo Horizonte, bandas e artistas hoje consagrados. De Ira! a Asdrubal Trouxe o Trombone com Regina Casé e Luís Fernando Guimarães, Língua de Trapo, Itamar Assumpção, Capital Inicial, Premeditando o Breque e muitos outros. As cadeiras do auditório do DCE foram retiradas e ele se transformou numa enorme pista de dança. Os shows eram regados com o velho capeta, drinque com cachaça, guaraná em pó e mel.