Uma onda conservadora tirou a esquerda do controle do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (DCE-UFMG). Com 1.911 votos (34,9% do total, incluindo brancos e nulos), a chapa batizada de Onda (O Nosso Diretório Apartidário) venceu a disputa pelo comando do DCE-UFMG contra as quatro concorrentes, todas vinculadas à esquerda. Esta é a primeira vez desde 1976, quando as eleições para o DCE-UFMG passaram a ser diretas (veja texto nessa página), que uma chapa não esquerdista assume o comando do diretório.
Ao todo votaram 5.472 alunos, o que representa 12,9% dos alunos da universidade. A segunda colocada na disputa foi a chapa Há Quem Sambe Diferente, com 149 votos a menos que a vencedora. A maioria dos votos da Onda (1.295) vieram dos alunos do Instituto de Ciências Aplicadas (Icex) e do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Apoiada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a chapa Tempos Modernos ficou em penúltimo lugar na disputa, com 253 votos, atrás apenas da chapa Reiventar, que teve 195 votos. A atual gestão do DCE-UFMG, Voz ativa, ligada ao PCR (Partido Comunista Revolucionário), agremiação de extrema esquerda fundada na década de 1960 a partir de uma dissidência do PCdoB, ficou em terceiro lugar na disputa, com 1.349 votos.
PUC Minas O fim da hegemonia da esquerda não é inédita na UFMG, mas não em outros diretórios estudantis de Belo Horizonte. Desde 2010, o DCE da PUC Minas no Bairro Coração Eucarístico é comandado por integrantes do PSDB. O atual presidente do diretório, Vitor Colares, 21 anos, aluno do curso de direito, dirige também a juventude tucana de Belo Horizonte. Antes dele, a gestão estava sob o comando do presidente do PSDB Jovem do estado, Caio Nárcio, filho do deputado federal licenciado Nárcio Rodrigues. Apesar da vinculação política, ele diz que o DCE da PUC é apartidário. “Não temos partido no movimento estudantil. Levamos nossa experiência da legenda para o movimento, sem partidarizar a entidade, ao contrário do que ocorre com os movimentos de esquerda que sempre aparelharam as entidades de representação estudantil”, compara.
Para propagar essa idéia, segundo ele, as entidades criam o Conselho Estudantil Universitário (Ceunir) que reúne diretórios estudantis “apartidários”. Fazem parte desse conselhos os diretórios das faculdades Newton Paiva, Uni-BH e Fumec, comandados por pessoas ligadas ao PSDB, e também o da Faculdade Milton Campos, cujo comando é ligado ao PHS.
A reportagem não conseguiu falar com nenhum dos integrantes da chapa. A porta-voz escolhida pela Onda para falar com a imprensa, identificada apenas como Clarice, não foi localizada. Seu namorado, Guilherme Lima, também um dos apoiadores da chapa, disse que ela passou a tarde dormindo pois a apuração dos votos terminou de madrugada e que ela não ia dar entrevistas nessa sexta-feira.
Outros tempos
A volta das eleições diretas
Álvaro Fraga
Depois do golpe de 1964, os militares extinguiram a União Nacional dos Estudantes (UNE) e proibiram as eleições diretas para os diretórios centrais dos estudantes, em uma tentativa de esvaziar os movimentos políticos de oposição. Essa situação perdurou até 1976, quando os universitários decidiram enfrentar a ditadura e eleger os DCEs livres, com votação direta. A primeira eleição livre ocorreu na USP, em São Paulo, e teve um episódio interessante. Agentes da polícia política invadiram a universidade e roubaram as urnas, forçando os estudantes a fazer nova eleição. Em Belo Horizonte, os alunos da UFMG foram ameaçados pelo general Antônio Bandeira de Mello, então comandante da 4ª Divisão do Exército, que prometeu impedir a votação e prender os estudantes. Mas nada disso ocorreu. A eleição foi tranquila, com a vitória da chapa Liberdade, de orientação marxista leninista, na retomada da tradição de escolha direta e democrática dos dirigentes do DCE.