O setor privado brasileiro contribui pouco para o combate à corrupção no país, conforme avaliação do secretário-executivo da Controladoria Geral da União (CGU), Luiz Navarro. De um total de 35 mil denúncias que chegaram à controladoria desde 2003, apenas 115 partiram de empresas, segundo dados divulgados nessa segunda-feira em Belo Horizonte por Navarro. “Muitas companhias acham que vale a pena pagar pela corrupção ou se silenciar para não atrair problemas”, afirma o secretário-executivo da CGU.
Navarro, ao mesmo tempo, acredita que o cenário passa por mudanças. “Empresas que se envolvem em escândalos terão um nível de exposição na mídia que, em muitos casos, pode significar a falência”, diz. Além do comportamento do setor privado, outra frustração na CGU, conforme Navarro, diz respeito aos recursos desviados em escândalos de corrupção. “A maior parte não retorna aos cofres públicos”, diz.
Desde 2003, 3,5 mil servidores públicos federais foram mandados embora por corrupção. Os principais motivos das dispensas são uso do cargo em benefício próprio ou de outros e recebimento de propina. A controladoria mantém uma lista de servidores sob investigação. Navarro diz não ter o número exato dos funcionários incluídos na relação, mas que o total chegaria a “centenas”.
O secretário-executivo da CGU afirma ser uma tarefa de longo prazo acabar com a corrupção no Brasil. “Ninguém pode imaginar que num país com as dimensões do nosso o problema será resolvido no atacado. Há muito o que fazer e precisamos de disciplina e método”, aponta. Para ele, modificações no sistema eleitoral seriam um dos caminhos a ser adotado. “A promiscuidade entre financiamento de campanha e corrupção é enorme”, diz
Armas Para combater o que, ao menos aparentemente, não tem relação com corrupção, mas afeta os cofres públicos, a CGU faz um ranqueamento nos ministérios e secretarias do governo federal apontando os mais gastadores com, por exemplo, passagem aérea. No estudo da controladoria, apurou-se que o valor médio da passagem Brasília–Rio de Janeiro é R$ 309. O preço, no entanto, pode oscilar conforme a data e o dia em que o bilhete foi adquirido. Quanto antes, mais barato o trecho. Segundo Navarro, que esteve em Belo Horizonte para participar de um encontro sobre combate à corrupção, a pressão para não aparecer entre os mais gastadores faz com que haja melhor planejamento das compras.