Enquanto a discussão sobre o possível aumento de 61,8% no contracheque dos vereadores de Belo Horizonte ganhou as redes sociais (veja abaixo), na Câmara Municipal os parlamentares evitaram tocar no assunto. Na tribuna da Casa nessa quarta-feira, outros temas internos tomaram as atenções e provocaram um bate-boca. A briga começou com uma reclamação sobre o destino do gabinete do ex-vereador Gêra Ornelas (sem partido) – fruto de cobiça por ser considerado o segundo maior da Casa –, passou por um projeto de lei da prefeitura e terminou em racha na Mesa Diretora.
Em seguida, Mattos reclamou do Projeto de Lei 2.046/2011, que cria cargos comissionados na Câmara, aumentando os custos em R$ 1.162.578,33, e tinha votação prevista para amanhã, como a revisão do salário dos vereadores. “Não sabemos do que se trata. Não houve discussão alguma na Casa e agora a Mesa Diretora (autora da proposta) quer votá-la a toque de caixa?”, questionou.
Em sua resposta, Cabo Júlio acabou criando uma crise na Mesa. Sobre os gabinetes, citou os de Neusinha Santos (PT) como o maior, e o de Mattos, como o menor. Disse que, assim como ele, outros vereadores pediram a mudança para o gabinete de Gêra. Sobre os novos cargos, destacou que não assinou a proposta e disparou: “Essa Mesa não é transparente. O presidente (Léo Burguês) está criando cargos que são uma caixa preta”. Burguês (PSDB) cria uma coordenadoria para organizar eventos. “Ele trabalha com isso (fora da Câmara). É promoter. Quer colocar mais gente dele na Casa”, disse Júlio. E enquanto o presidente dizia que “todas as informações sobre cargos estão no nosso site”, Júlio rebatia: “É mentira. Você está equipando a Casa para você”.
Executivo
Na tribuna, Mattos criticou ainda o PL 2.030/2011, do Executivo, que cria a “Operação Simplificada do Centro de Convenções de BH”, que concede benefícios para os interessados em erguer espaço para convenções no Bairro União, na Região Nordeste. “O empresário vai ganhar na ’mega-sena da virada’ em um processo sem transparência”, comparou. A matéria chegou à Câmara no dia 6 e, em alta velocidade para os padrões da Casa, já está pronto para o plenário. Um dos benefícios é a permissão para construir mais andares do que o previsto no zoneamento urbano da região. “Há pareceres que já chegam prontos à Casa, apenas para serem assinados”, acusou, acrescentando que o líder de governo, Tarcísio Caixeta (PT), e o vice-líder Bruno Miranda (PDT) ocuparam a Comissão de Meio Ambiente para garantir à aprovação de propostas de interesse da PBH.
Caixeta devolveu, chamando-o de leviano: “Numa comissão de cinco integrantes, dizer que nós dois impomos votação a outros três colegas é, no mínimo, má-fé”. Segundo ele, a escolha será feita por licitação e aconselhou os vereadores a mudarem de atitude para que a “Câmara deixe as páginas de polícia dos jornais e ocupe as páginas da política”.
Reação ao aumento ecoa na internet
Isabella Souto
A discussão sobre o aumento de 61,8% no salário dos vereadores de Belo Horizonte – proposto em projeto de lei que chega ao plenário da Casa amanhã – causou indignação a vários moradores da capital. No site do Estado de Minas, www.em.com.br, dezenas de internautas postaram comentários contra o novo contracheque defendido pela Mesa Diretora. No microblog Twitter, muitas mensagens foram postadas com o hashtag #vergonhaCMBH. Se aprovado sem modificações, os parlamentares que forem empossados em 1º de janeiro de 2013 ganharão R$ 15.031,76.
“Léo Burguês, como presidente desta casa, pare um instante e leia o que o povo está escrevendo aqui. Vocês seriam irresponsáveis se aprovarem (sic) esse aumento. Escutem o povo, não somos idiotas. Vocês vão pagar o preço na próxima eleição”, indignou-se Antonio Ziller no em.com.br. Orcelino Andrade foi além: “Enquanto a sociedade permanecer omissa, na mansidão bovina, os políticos continuarão desrespeitando esta mesma sociedade, defendendo apenas seus interesses particulares, enquanto a população continua passando necessidade. ACORDA BRASIL!!!... e brasileiros. deixemos de ser otários!!!...”
No Twitter, o perfil de mobilização social @criticarbh encabeçou campanha contra o aumento. Uma delas trouxe link com o e-mail de todos os parlamentares. Mensagens foram replicadas ao longo do dia. O vereador Adriano Ventura (PT) rebateu: “Agora penso também que a população tem que cobrar como um todo: os deputados aumentaram o salário deles em R$ 26 mil. Os estaduais em R$ 20 mil”. Ele referiu-se ao reajuste aprovado no ano passado na Câmara dos Deputados e assembleias legislativas de todo o país e que começou a vigorar em fevereiro. (Colaborou AA)
Repercussão
leitores comentam no em.com.br
“Quando esses caras vão parar de trabalhar contra o povo?”
Maurissone Guimarães
“É coisa para o Ministério Público e para a imprensa! Façam a comparação de todas as classes que tiveram aumento e vejam se chegou a tanto!”
Rogério Rômulo Oliveira