Insatisfeita com a canalização de verbas federais quase que exclusivamente para Pernambuco, estado de origem do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, a presidente Dilma Rousseff interveio e ordenou a adoção de critérios técnicos na distribuição dos recursos do ministério para combate e prevenção de desastres naturais, como enchentes e desmoronamentos.
Foi este o objetivo da reunião convocada às pressas hoje, pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, que interrompeu a semana de férias no Paraná, a pedido da presidente, e voltou ao Palácio do Planalto para tratar da questão com técnicos do ministério e da Defesa Civil. Reportagem publicada na véspera pelo Jornal O Estado de S. Paulo mostrou que cerca de 90% da verba antienchente da Integração foram aplicados em Pernambuco, a despeito dos estragos provocados pelo verão chuvoso em outros Estados.
O telefonema da presidente ao governador tucano não foi o único sinal da disposição do Planalto de impor limites à prática já tradicional da distribuição paroquial das verbas antienchente, em que ministros privilegiam sua base eleitoral em busca de voto ignorando o conjunto do País. No governo Lula, foi o ministro baiano Geddel Vieira Lima (PMDB) quem concentrou na Bahia a grande maioria das obras e investimentos da Integração.
Como chefe da Casa Civil, Gleisi foi escalada para fazer a mediação técnica com o ministério neste ano de eleição municipal. A presidente preferiu deixar tudo nas mãos de sua ministra. Não se deu ao trabalho de procurar sequer Bezerra para questioná-lo sobre as ações da defesa civil ou sobre suas escolhas de investimentos. O ministro permanece de férias, em Pernambuco.
Antes de embarcar para Brasília, Gleisi tomou duas providências: Encarregou seu secretário-executivo Beto Vasconcellos de organizar a reunião com técnicos da Integração, Defesa Civil e Ciência e Tecnologia. Em seguida, telefonou ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para saber como estava a situação no Estado que sempre figura no topo da lista dos mais atingidos pelas tempestades de verão.
Até expoentes do PT pernambucano, partido aliado, avaliam que o ministro exagerou na politização do uso das verbas antienchente. Hoje, não faltou quem criticasse o "provincianismo e o clientelismo" de Bezerra, que dias antes surpreendera o prefeito petista do Recife, João da Costa, com a transferência de seu domicílio eleitoral de Petrolina para a capital pernambucana. Para o PT local, Bezerra tem pretensões de disputar a prefeitura.
Ligado ao governador pernambucano Eduardo Campos, que preside o PSB nacional, o ministro Fernando Bezerra aplicou em seu Estado R$ 25,5 milhões do total de R$28,4 milhões pagos em obras autorizadas em 2011 para prevenção de desastres naturais. Deixou apenas R$ 2,9 milhões para o restante do Brasil. Para agravar ainda mais a situação, um petista de Pernambuco destaca que é o sol que castiga o solo local. "Nossa emergência agora não é a água; é o início da seca", diz um dirigente petista local.