Jornal Estado de Minas

Ministro da Integração Nacional diz que Dilma sabia do repasse para Pernambuco

Convocado pela Casa Civil para prestar esclarecimentos em Brasília, ministro Fernando Bezerra afirma que a presidente tinha conhecimento dos repasses para obras em PE, seu estado natal

Brasília – Pressionado pelo Palácio do Planalto, que o obrigou a antecipar o retorno a Brasília, e pelo PMDB, que pretende tomar-lhe a vaga na Esplanada, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, convocou ontem entrevista coletiva para dizer que a presidente Dilma Rousseff sabia do repasse de R$ 70 milhões para a construção das usinas na Bacia do Una, em Pernambuco. É a primeira vez que um ministro instado a dar explicações sobre ações consideradas suspeitas – a destinação da maior parte dos recursos de prevenção do ministério ao seu estado natal – envolveu diretamente a presidente da República em suas justificativas. “O repasse dos R$ 70 milhões foi discutido com a Casa Civil, o Ministério do Planejamento e com o conhecimento e participação da presidente da República”, declarou.

Aliados do ministro confirmam que, logo após o desastre ocorrido na Bacia do Una em junho de 2010, que provocou alagamentos em 41 municípios, atingiu 80 mil pessoas e deixou 18 mil famílias desabrigadas, integrantes do governo federal ligaram para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, perguntando o que precisava ser feito para que a situação fosse contornada. A liberação dos recursos ocorreu em 2011. Questionado se a presidente saberia detalhar todos os recursos liberados pela sua pasta nas ações de combate a enchentes, Bezerra foi enfático. “Eu não disse todos os recursos. Mas sobre esses R$ 70 milhões ela tinha conhecimento.”

Bezerra Coelho também abriu uma crise com um colega de Esplanada – o ministro das Cidades, Mário Negromonte, que está com os dias contados no governo federal. O titular da Integração Nacional disse que o orçamento de sua pasta é ínfimo se comparado ao comandado pelo colega baiano. “O Ministério das Cidades tem um orçamento de R$ 11 bilhões para as obras de contenção e prevenção a enchentes. Nossos recursos são muito pequenos”, completou. Durante a entrevista coletiva, o ministro reforçou a nota divulgada pela Casa Civil no final da manhã negando que pasta esteja sendo esvaziada por Gleisi Hoffmann a pedido da presidente Dilma Rousseff.

Férias Bezerra teve que cancelar as férias previstas para durar até sexta-feira para explicar as razões pelas quais teria reservado quase a totalidade do orçamento do ministério para atender Pernambuco, governado pelo presidente de seu partido (PSB), Eduardo Campos. O PPS já protocolou requerimento na Câmara cobrando explicações do ministro. “Não existe política partidária, miúda, pequena. Não posso aceitar que se discrimine Pernambuco por ser o estado do ministro, reclamou ele.

O ministro afirmou que, dos R$ 98 milhões direcionados para Pernambuco em ações de prevenção, R$ 70 milhões foram utilizados na construção de três das cinco barragens na Bacia do Una, Sirinhaém e Mundaú. No total, o Ministério reservou R$ 218,76 milhões para ações de prevenção em 12 estados.

Sobre o direcionamento de R$ 8,9 milhões para Petrolina, cidade onde nasceu e na qual seu filho Fernando Bezerra Coelho Filho será candidato a prefeito em outubro, o ministro disse tratar-se de “um repasse para um batalhão de infantaria contratar carros-pipa para atender os moradores da região”. Bezerra afirmou que outros estados também foram beneficiados com recursos liberados pela pasta. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, o ministro assegurou que foi assinado um convênio de R$ 300 milhões para obras de contenção e reparo na região serrana, uma das mais atingidas pelos temporais de 2011.