O peso político de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país – com 14,5 milhões de votantes –, não tem sido colocado na balança como critério para liberação de verbas federais pelo governo federal nos últimos 17 anos, conforme dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Assim como nos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no governo de Dilma Rousseff (PT), o estado, com 853 municípios, ocupa o triste quarto lugar no volume total de liberação de verbas, ficando atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e até mesmo do Distrito Federal (que geralmente recebe mais recursos devido aos repasses federais), 20º colégio do país, com 1,8 milhão de votantes (veja quadro).
No seu primeiro ano de governo, Dilma Roussef liberou para Minas cerca de R$ 10,4 bilhões dos R$ 12,4 bi previstos, conforme o orçamento de 2011. A diferença, que parece pouca, por si só, já seria suficiente para a conclusão de cinco das sete principais obras, como a revitalização do Anel Rodoviário, a construção do Terminal 2 do aeroporto de Confins, além da duplicação e asfaltamento das BRs 040, 440 e 367. Como a perda foi de R$ 2 bilhões, ainda restariam para investimento R$ 234 milhões.
Enquanto o estado patina em busca de recursos da União, o Nordeste do país vive um boom de crescimento, incrementado por investimentos maciços do governo federal, que tem na região o apoio de partidos importantes como PMDB, PSB e do próprio PT, de Dilma. Um crescimento evidenciado pelos números do Banco Central, em agosto, quando constatou o crescimento de 0,6% na economia da Região Sudeste, no segundo trimestre do ano, contra 1,6% do Nordeste, no mesmo período.
Apoio Preterido até mesmo no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, quando o comando do estado estava nas mãos do PSDB, com Eduardo Azeredo (1995 a 1998), Minas é vítima da divisão política da base de apoio do governo do estado. De acordo com o consultor político Gaudêncio Torquato, é impensável que Minas com sua riqueza e cobiçado colégio eleitoral viva de pires na mão. Ele lembra que hoje o mineiro Fernando Pimentel (PT) – homem de confiança de Dilma Rousseff e prefeito de Belo Horizonte de novembro de 2001 (quando assumiu interinamente com a licença de Célio de Castro, então no PSB) até 2008 – ocupa a importante pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e nem assim conseguiu significativo aporte de recursos para seu estado. “Já era para existir um rio de recursos para Minas”, pondera Gaudêncio.
Um contraste que ficou ainda mais evidenciado com o volume desproporcional de verbas liberadas pelo ministro da Integração Social, Fernando Bezerra (PSB), que destinou a Pernambuco, seu estado natal, R$ 98 milhões para prevenção contra as chuvas o ano passado, contra apenas R$ 10 milhões para Minas, que enfrenta hoje uma tragédia com mais de 10 mil desabrigados e 12 mortos. Para Gaudêncio, explicação pode estar na grande fragmentação da bancada mineira no Congresso Nacional, onde o PSDB divide poder com São Paulo, assim como o PMDB, que não atua em bloco.
Para o consultor político, soma-se a esse cenário, a aproximação do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), já com vista às eleições presidenciais de 2014. “O PT de Dilma Rousseff ainda está analisando o movimento das peças políticas antes de beneficiar Minas Gerais”, avalia Gaudêncio. Isso, segundo ele, mesmo depois de o ministro Fernando Pimentel ter costurado um acordo político com PSB e PSDB, garantindo uma vaga na Prefeitura de Belo Horizonte, para o socialista Marcio Lacerda, cadeira que pertenceu ao PT no período de 1993 a 1996, com Patrus Ananias, e de 2002 (quando Célio de Castro troca o PSB pelo PT) a 2008, quando Pimentel deixou a administração.
Sudene Além da aliança forte com o governo federal por meio dos partidos PSB, PMDB e PT, que administram os principais estados do Nordeste, Gaudêncio acredita que os governadores da região atuam em bloco para angariar os recursos e no Sudeste Minas, comandada pelo PSDB, assume uma posição mais isolada, em razão de uma queda de braço política com o tucanato paulista.
A força política do Nordeste ficou evidenciada ainda com a exclusão de 168 municípios mineiros da área da Sudene que têm direito a benefícios fiscais federais concedidos a empresas automotivas. A aprovação da Medida Provisória 512 com 333 votos pela Câmara dos Deputados, beneficiando os mineiros, não rendeu os frutos desejados foi vetada pela presidente Dilma Rousseff. Isso terminou por beneficiar mais uma vez o estado de Pernambuco, que, com os novos incentivos, atraiu o investimento da Fiat, antes previsto para Minas Gerais.
Você se lembra?
Não existe política partidária, miúda, pequena. Não posso aceitar discriminação contra nenhum estado, não se pode discriminar Pernambuco por ser o estado do ministro, não é correto
Fernando Bezerra, ministro da Integração Nacional, no dia 4, referindo-se ao repasse de
R$ 70 milhões, o maior da Pasta, para o seu estado natal