Brasília – Uma disputa de R$ 63,23 bilhões envolvendo sete legendas terá que ser administrada pela presidente Dilma Rousseff neste início de ano. É esse o volume total destinado a investimentos nos ministérios comandados pelos sete principais partidos que compõem a base de apoio do governo federal. Tanto dinheiro em jogo só aumenta a angústia dos aliados diante do silêncio de Dilma quanto à reforma em si. Em pleno ano eleitoral, com disputas municipais nos grandes centros e nos discretos grotões brasileiros, chefiar pastas com orçamentos vultosos torna-se sinônimo de prestígio e força para 2014.
Embora existam discursos públicos de respeito mútuo entre os partidos, eles trocam caneladas nos bastidores em busca de espaço. Maior partido no Congresso, com mais senadores e a segunda bancada da Câmara, os peemedebistas choramingam há um ano que Dilma encolheu a legenda na Esplanada. Da boca para fora, ressaltam a presença do vice-presidente Michel Temer no condomínio presidencial. Internamente, resmungam do presente, olham com nostalgia para os tempos do governo Lula e sofrem com a falta de perspectivas na máquina pública federal.
O PMDB tem quatro ministérios mais a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), vinculada à Presidência da República. O maior deles é Minas e Energia, comandado pelo senador Edison Lobão, afilhado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A pasta tem obras importantes a administrar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas a maior parte dos recursos está espalhada pelas subsidiárias do setor elétrico.
Somadas todas as pastas que administra, os peemedebistas contam com orçamento total de R$ 4,1 bilhões para investimentos. Na ponta do lápis, o passado já foi mais generoso para a legenda. Ao término do governo Lula, em 2010, o partido administrava o Ministério da Saúde (orçamento de R$ 9,49 bilhões previstos para 2012); Integração Nacional (R$ 6,076 bilhões) e Defesa (R$ 9,127 bilhões).
Para tentar diminuir o prejuízo, a sigla já decidiu escalar o próprio Michel Temer, que recentemente fez uma cirurgia para retirar a vesícula, como negociador com a presidente Dilma em busca de novo patamar de atuação do partido na Esplanada. Os correligionários do vice-presidente sabem que não vão recuperar duas pastas: a Saúde, hoje comandada pelo petista Alexandre Padilha, e a Defesa, que tem à frente o ex-chanceler Celso Amorim, nomeado após o antecessor Nelson Jobim falar o que não devia sobre suas convicções eleitorais.
Integração Nacional
Em meio à turbulência política vivida pelo ministro Fernando Bezerra nos últimos dias, a Integração Nacional, ainda interessa ao PMDB. O partido tenta provar que não, por meio de mensagens no Twitter do líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), declarando apoio público ao PSB. Os socialistas, contudo, não acreditam. “Eles já nos disseram que vão tentar nos derrubar junto à presidente Dilma. Não é uma questão de fogo amigo, pois nunca fomos amigos do PMDB”, disse ao Estado de Minas um dirigente do PSB.
Integrantes do PMDB tentam afirmar que a Integração Nacional é um amor de verões passados. Desdenham a pasta dizendo que a maior parte das verbas está emperrada nas obras de Transposição do Rio São Francisco e que a nova paixão é o Ministério das Cidades, de polpudo orçamento: R$ 8,92 bilhões. Não ficariam tristes, contudo, se herdassem o Ministério dos Transportes e seu caixa de pouco mais de R$ 17 bilhões.
Só que essas duas pastas são controladas por legendas que só contam com elas para se sentirem presentes na máquina pública federal: PR (Transportes) e PP (Cidades). Os dois têm algo mais em comum: Alfredo Nascimento era ministro dos Transportes e foi um dos abatidos na revoada ministerial do ano passado. Agora, em janeiro, nove em cada 10 entrevistados asseguram que Mário Negromonte limpará as gavetas no Ministério das Cidades.
As coincidências não param por aí. Alfredo deu lugar a Paulo Sérgio Passos, filiado ao PR, mas técnico demais para o gosto dos republicanos. Desde a substituição, não se passa uma semana sem que as lideranças do partido reclamem com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que já cumpriram seu período de expiação e que está na hora de o partido ser novamente ouvido na indicação de um ministro. Enquanto isso, no PP, a luta é para que a saída de Negromonte não signifique a ressurreição de Márcio Fortes, técnico amado por Dilma e detestado por senadores e deputados pepistas. Eles torcem por um nome de consenso político, como o deputado Márcio Reinaldo (MG), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012.
O PT está quietinho, já que tem o maior naco de poder e recursos da Esplanada. Pode perder a Ciência e Tecnologia (orçamento de R$ 1,7 bilhão) com a ida de Aloizio Mercadante para o Ministério da Educação e uma possível indicação de Ciro Gomes para o seu lugar. Mas insinuam que, se a presidente quiser, não reclamariam em desalojar o PP de Cidades. “Achamos que isso não vai dar certo, mas não custa enviar sinais para o Planalto”, brincou uma liderança petista.
5 Total de ministérios que o PMDB comanda.