Acuado há uma semana com denúncias de privilégios para sua base eleitoral em Petrolina, Pernambuco, e para seus familiares espalhados na máquina pública federal, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, decidiu antecipar sua ida ao Congresso Nacional em pleno recesso para prestar esclarecimentos. Ele telefonou nessa segunda-feira para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e solicitou que fosse convocado para se apresentar na Comissão Representativa do Congresso na quinta-feira, o que significa explicar-se para um Legislativo esvaziado pelo recesso de janeiro – apenas 17 de deputados e sete senadores. No Planalto, a estratégia até o momento é mostrar que o titular da Integração Nacional não está ameaçado de demissão.
Respostas
O titular da Integração Nacional garantiu que conta com o “apoio e confiança” da presidente Dilma Rousseff para continuar no cargo. “Se eu não contasse com a confiança e o apoio da presidente Dilma não estaria nesta solenidade”, disse. Ele afirmou que teve uma “uma longa e boa conversa” com a presidente e que ela já havia recebido todas as informações sobre as denúncias. “O Ministério do Planejamento já se manifestou em relação aos recursos da Defesa Civil, a CGU já se manifestou em relação à situação da direção da Codevasf. Portanto, todos os pontos levantados já foram devidamente respondidos”, sustentou.
Bezerra está confiante de que as denúncias não vão ter maiores consequências. “Nós estamos tranquilos, nenhuma dessas denúncias vai prosperar, porque nunca prosperou nenhuma denúncia contra minha pessoa. E eu nunca tive nenhuma conta rejeitada em toda minha vida pública”, enfatizou.
Blindagem
Nos bastidores, tanto ele quanto o PSB apostam no esvaziamento da crise política até o início do ano legislativo, em fevereiro. Sob holofotes, no entanto, ele disse acreditar que o depoimento em pleno recesso não facilita sua defesa. “Eu creio até que é mais difícil a blindagem nessas circunstâncias”, defendeu. Ele adiantou, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e outros ministros para tratar das enchentes no país, que pretende “tirar qualquer dúvida em relação à gestão dos recursos da Defesa Civil”.
Como o Estado de Minas mostrou na última semana, Bezerra usou o cargo para beneficiar familiares em Pernambuco. Ele e o irmão Clementino de Souza Coelho, presidente interino da Codevasf, intermediaram a licitação para a compra de cisternas de plástico da empresa Acqualimp, a serem distribuídas no sertão brasileiro. O custo de instalação do produto é duas vezes e meia maior do que as cisternas de concreto.
Além disso, a Acqualimp acertou a instalação de uma fábrica em Petrolina, município no qual o filho do ministro, Fernando Coelho Filho, será candidato a prefeito em outubro. No mesmo dia em que a matéria foi publicada, a Casa Civil divulgou nota confirmando o nome de Guilherme Gonçalves Almeida como novo presidente da Codevasf, em substituição a Clementino.
Articulação
Bezerra passou o fim de semana em Pernambuco e conversou por diversas vezes, por telefone, com o governador do Estado, Eduardo Campos. Desde o início da crise, tem cabido a Eduardo – que também é presidente do PSB – dar o tom das declarações do ministro. Foi o governador quem primeiro avisou que as obras das barragens na bacia do Una foram feitas “com o conhecimento pleno da presidente Dilma”. Na quarta-feira, em entrevista coletiva no ministério, Bezerra repetiu a estratégia de defesa. Outra ação combinada é mostrar que “Pernambuco não pode ser penalizada por apresentar os melhores projetos para prevenir enchentes”, como declarou Campos no fim de semana passado, adotando um discurso voltado para o eleitorado pernambucano.