Alvaro Dias tem consciência dessas limitações e fez questão de ligar diretamente para Guerra para avisar que não será condescendente com o ministro. Segundo ele, recebeu o sinal verde do principal dirigente do PSDB. “Vou cumprir o meu papel de oposição, agirei como líder do partido no Senado. E acredito que o líder da Câmara (Duarte Nogueira, de São Paulo) atuará da mesma maneira”, declarou Dias.
A situação de Guerra, de fato, é delicada. Diferentemente de outras crises envolvendo ministros do governo Dilma, o presidente nacional do PSDB pouco tem falado no episódio envolvendo Bezerra. Algumas questões tornam sua situação complexa. Ele é deputado por Pernambuco. No estado, o ministro da Integração Nacional está sendo encarado como herói por ter encaminhado recursos para combater as enchentes na região. Além disso, no plano local, o tucano é aliado do governador Eduardo Campos, padrinho político de Bezerra, e conta com o governador para voos mais consistentes nos próximos anos.
Primeira instância
Nessa quarta-feira, a Procuradoria Geral da República encaminhou a ação contra Bezerra, protocolada pelo DEM na terça-feira, para a Procuradoria Geral da República no Distrito Federal, já que a denúncia é de improbidade administrativa e o foro para análise desse tipo de ação é a primeira instância.
Bezerra articula-se em Brasília e em seu estado natal. Na terça-feira, ligou duas vezes para o governador Eduardo Campos em menos de seis horas – a primeira no fim da tarde e a segunda por volta das 21h. Aliados de Bezerra e Campos apostam no esfriamento da temperatura, já que o ministro tem recebido gestos de solidariedade vindos de governistas e oposicionistas. “O PSB foi o partido que mais cresceu nas últimas eleições, é difícil uma ação concreta para nos dividir”, disse um interlocutor do governador de Pernambuco.
Esses mesmos articuladores do PSB alardeiam, por exemplo, que os três estados supostamente prejudicados pelos “privilégios a Pernambuco” não reclamaram publicamente do Ministério da Integração Nacional. “Pelo contrário, os governadores Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ), Antonio Anastasia e Raimundo Colombo (PSD-SC) manifestaram publicamente apoio às ações do ministério”, disse um aliado de Campos. “E quem não fala a favor silencia sobre a crise, o que tem o mesmo efeito político”, completou o pessebista.
Roteiro
Confira as perguntas que a oposição deve fazer hoje ao ministro Fernando Bezerra
Por que o irmão, Clementino Coelho, ficou quase um ano para ser afastado do cargo de presidente interino da Codevasf mesmo quando ele assumiu o ministério?
Por que Pernambuco teve a maior parte dos recursos destinados à prevenção de enchentes, se estados como Minas, Rio e Santa Catarina também sofreram com problemas semelhantes?
Por que Clementino e Bezerra beneficiaram Petrolina com 22,8 mil cisternas de plástico (38% das 60 mil compradas por edital) – mais caras que as de concreto – mesmo sabendo que o cadastro do Ministério do Desenvolvimento Social apontava que a Bahia e o Ceará estavam à frente na lista de prioridades?
Por que empresas ligadas ao ministro e a seus irmãos foram beneficiadas por projetos de irrigação comandados pela pasta?
Por que Fernando Bezerra nomeou o próprio tio, Osvaldo de Souza Coelho, para o Comitê Técnico Consultivo para o Desenvolvimento da Agricultura Irrigada, que serve como órgão de asessoramento direto ao ministro?
Por que o deputado Fernando Bezerra Coelho Filho – pré-candidato a prefeito de Petrolina (PE) – concentrou 60% de suas emendas parlamentares para a Codevasf em 2011, ano em que o pai era ministro da Integração Nacional e o tio presidente interino da estatal?
Por que Bezerra tinha sob seu comando Antonio de Pádua Kerhle, pai de sua nora Laura, lotado no Dnocs de Pernambuco, e Iran Padilha Modesto, tio de Laura, lotado como representante do ministério em Pernambuco?
Saiba mais
Caráter urgente
A Comissão Representativa é composta de oito senadores e 17 deputados, com igual número de suplentes. Segundo o Regimento Interno do Congresso, o colegiado atua durante o período de recesso do Parlamento e tem como principal função a de exercer atribuições de caráter urgente que não possam aguardar o início do período legislativo seguinte sem causar prejuízos para o país ou para suas instituições. A atual composição da comissão tem apenas quatro integrantes dos partidos da oposição.