Em Frutal, no Triângulo Mineiro, a prefeita Maria Cecília Marchi Borges (PR) era a antiga secretária da área social da cidade. Quem ocupa o posto atualmente é a irmã da prefeita, Ana Cláudia Brito Marchi. “Minha irmã tem grande chance nas próximas eleições”, aponta a prefeita. Porém, devido aos laços familiares, ela é impedida de disputar a prefeitura e deve tentar uma vaga no Legislativo. A prefeita explica que vários programas passam pela Secretaria de Promoção Social, entre eles o Bolsa-Família. Ana Cláudia também não descarta tentar compor uma chapa, como vice-prefeita. “É inegável que ajuda. Ficamos bem conhecidos na cidade”, destaca a pré-candidata.
O secretário municipal de Assistência Social de Francisco Sá, no Norte de Minas, Idalino Alkimin (PTN), que é vereador licenciado, anuncia que este ano vai tentar uma vaga na Câmara Municipal. A pasta comandada por ele é responsável pelo Programa Bolsa-Família, que tem cerca de 5 mil pessoas cadastradas no município de 23,4 mil habitantes. Idalino sustenta que nunca fez uso político do cargo. “Para evitar esse tipo de comentário, tirei o programa de dentro da sede da secretaria. Estou consciente de que o programa não pode ser usado para benefício político no município”, afirma o secretário.
Culpa da gente Ele lembra que a Secretaria Municipal de Assistência Social faz o cadastro das pessoas incluídas no Programa Bolsa-Família. “Por outro lado, toda vez que acontece uma coisa ruim, quando um cartão é bloqueado, quem leva a culpa é a gente”, destaca o secretário. Idalino ressalta ainda a importância do Bolsa-Família para os pequenos municípios. “Tem gente que fala que o benefício, às vezes, faz as pessoas ficarem preguiçosas. Mas é esse programa que garante o sustento do pessoal mais pobre”, afirma.
O secretário municipal de Desenvolvimento Social de Januária, no Norte de Minas, Christiano Maciel Carneiro (PTC), também admite a possibilidade de ser candidato a vereador. Do mesmo partido do prefeito Maurílio Arruda, ele comanda a pasta responsável pelo Bolsa-Família. “Se eu colocar meu nome à disposição dos eleitores, não tenho nenhuma intenção de me aproveitar do Bolsa-Família, porque não tenho acesso à gestão do programa”, diz Maciel Carneiro. Ele afirma que “entregou” a coordenação do Bolsa Família para uma pessoa que trabalha fora da sua secretaria. Entende ainda que o prefeito Maurílio Arruda não permite qualquer aproveitamento político do benefício. “Além disso, a lei proíbe esse tipo de coisa”, entende.
Bolsa-Família
Apregoado como a principal política de transferência de renda do governo petista e criado no primeiro ano do governo Lula, em 2003, o Bolsa-Família é um programa destinado às famílias em situação de pobreza, com renda per capita de até R$ 140 mensais, que associa à transferência do benefício financeiro o acesso aos direitos sociais básicos – saúde, alimentação, educação e assistência social. O programa foi turbinado no primeiro ano do governo Dilma Rousseff. No ano passado, o repasse foi de R$ 16,7 bilhões, o que representa um aumento de 19,4% ante os R$ 13,3 bilhões de 2010. Os benefícios do programa de distribuição de renda variam de R$ 32 a R$ 306, dependendo do perfil econômico da família e da quantidade de filhos de até 17 anos. Minas Gerais é o terceiro estado mais beneficiado. Até o fim do ano passado 1.159.172 famílias receberam o apoio, somando R$ 1,3 bilhão.
Agricultura familiar também é vitrine
Não só o Bolsa-Família impulsiona as candidaturas. Outros projetos sociais também colocam os políticos na vitrine. O ex-prefeito de Porteirinha, no Norte de Minas, Alonso Reis (PT) anuncia que este ano será candidato à prefeitura. Ele tentou a reeleição em 2008 e foi derrotado pelo atual prefeito, o empresário Juracy Freire (PTB). Desde que deixou a prefeitura, Alonso coordena uma organização não governamental (ONG) que trabalha em parceria com o governo federal na aquisição de produtos de agricultores familiares e destina os alimentos para a merenda escolar, entidades sociais e famílias carentes. Cerca de 600 famílias de baixa renda no município são contempladas.
O ex-prefeito admite que o fato de estar à frente do programa proporciona a ele retorno eleitoral. No entanto, nega qualquer intenção de tirar proveito do projeto. Alonso lembra que o Instituto de Desenvolvimento Sustentável (IDS), que dirige, foi criado em 2003. “Sou técnico e me aposentei como ex-funcionário do Banco do Nordeste. Quando deixei a prefeitura passei a trabalhar como técnico de forma voluntária em ações sociais. É, portanto, um trabalho voluntário. Não se trata de uma bandeira eleitoral”, assegura o ex-prefeito.
Alonso Reis diz ainda que está tranquilo e não tem receio de ser acusado do uso político do programa federal na campanha eleitoral. “Esse tipo de acusação faz parte da disputa eleitoral. Mas a minha maior preocupação na campanha política em Porteirinha é combater a compra de votos e o domínio do poder econômico. Temos que evitar que isso venha a acontecer”, afirma o pré-candidato.