Jornal Estado de Minas

Preço pago por alimentos pelos vereadores têm diferença de até 300%

Dinheiro gasto com lanche na Câmara de BH supera R$ 80 mil em 2011

Daniel Camargos Isabella Souto

Os vereadores de Belo Horizonte poderão esperar sentados e bem alimentados enquanto aguardam uma decisão do prefeito Marcio Lacerda (PSB) sobre o reajuste salarial de 61,8% nos contracheques a partir de 2013. No ano passado, a mesa de lanches servidos aos parlamentares foi farta. Somados todos os custos com cafezinhos, biscoitos, pães de queijo, bolo, torradas, sanduíches variados e os milhares de litros de refrigerante, suco e chá, o Legislativo gastou R$ 87.525,26 dos cofres públicos.

Na publicidade veiculada pela Câmara Municipal em diversos veículos de comunicação – como resposta à reação popular ao polêmico aumento – o principal argumento é a economia de R$ 47 milhões em relação ao orçamento previsto para a Casa. Porém, a economia poderia ser maior se os responsáveis pelas compras fizessem uma simples pesquisa de preços. E não precisava ir longe, bastava uma ida rápida ao supermercado localizado a 350 metros da Câmara, no interior de um shopping.

Para ter uma ideia, uma garrafa de dois litros de Coca-Cola custava nessa segunda-feira R$ 3,95. Em 2011, os vereadores pagaram muito mais para beber 902 garrafas pet da bebida: R$ 6,62 cada um, uma diferença de 67,5%. No primeiro semestre, o preço era R$ 3,48. O pacote de torrada integral ficou quase 300% mais caro. Saltou de R$ 2,20 para R$ 6,38. Talvez por isso o consumo do pão tenha caído pela metade.

Beber 288 potes de cappuccino diet ficou bem mais caro para o bolso do contribuinte ao longo de 2011: um pote de 150g, comprado no início do ano por R$ 8,69, passou para R$ 15 no segundo semestre. No supermercado, o preço ontem era R$ 9,69. O aumento do capuccino tradicional foi bem menor, passado de R$ 15,89 para R$ 17,24. Apesar de mais salgado, os parlamentares parecem ter preferido não engordar. Foram consumidos 228 potes durante o ano, enquanto foram tomados 240 potes da versão tradicional. E para quem prefere o café comum, foram comprados 1.920 quilos.

Outra bebida vendida muito mais valorizada para os vereadores foi o suco da marca Tial de 1 litro. A Câmara comprou 668 litros por R$ 6,07, gastando um total de R$ 4.054,76. No mesmo supermercado onde o refrigerante é mais barato, o suco é vendido por R$ 2,98, uma diferença de 103,6%. Se os mesmos 668 litros fossem comprados pelo menor preço representaria uma economia de R$ 2.064,12. Dinheiro suficiente para comprar mais 692 litros.

Casa da Dinda

O lanche é servido, essencialmente, no anexo conhecido como “Casa da Dinda”, local de acesso exclusivo aos 41 parlamentares enquanto ocorrem as sessões plenárias, sempre na primeira quinzena de cada mês. A sala é usada pelos vereadores para discussão de projetos, acordos políticos e, claro, matar a fome. É servido também em eventos com duração prolongada, como seminários, cursos e treinamentos.

Por meio da Assessoria de Imprensa, a Câmara explicou que o modelo de licitação é de menor preço global, ou seja, não especifica cada item. Por isso, em alguns produtos pode estar pagando valor superior ao de mercado. O lanche dos vereadores será mantido este ano, mas, ainda segundo a assessoria, a forma da concorrência ainda não foi definida.

O aumento aguardado pelos vereadores eleva o salário dos atuais R$ 9.288,05 para R$ 15.031,76, o que corresponde a 75% da remuneração dos deputados estaduais. O aumento deve ser sancionado pelo prefeito, mas caso Lacerda não se manifeste o projeto retorna para Câmara, para que os vereadores referendem novamente. O novo valor só passa a valer na próxima legislatura, em 2013, mas a maioria dos vereadores vai tentar a reeleição.