Jornal Estado de Minas

Pressionadas, câmaras desistem de aumento salarial

Conheça as cidades que recuaram do aumento depois da pressão popular

Isabella Souto Juliana Cipriani

Integrantes do Veta Lacerda prometem fechar a Afonso Pena hoje - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press - 5/1/12O apelo popular prevaleceu em três municípios do Espírito Santo. Diante da repercussão negativa e manifestações da população contra aumentos votados no fim do ano passado, os vereadores de Vitória, Vila Velha e Cachoeiro do Itapemirim desistiram de engordar o contracheque, que, nos moldes do proposto em BH, são para vigorar a partir de 2013. Na capital mineira, o grupo responsável pelo movimento “Veta Lacerda” nas redes sociais convoca nova manifestação para hoje na porta da Prefeitura de Belo Horizonte. Eles pretendem fechar meia pista da Avenida Afonso Pena entre as 17h e as 20h e, pela terceira vez, fazer barulho diante do gabinete do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que tem nas mãos, para sancionar ou vetar, o reajuste de 61,8% dos vereadores da capital.

Os parlamentares de Vila Velha haviam aprovado um reajuste de 61,8% – mesmo índice adotado em Belo Horizonte –, passando dos atuais R$ 7,43 mil para R$ 12 mil. Em reunião com o prefeito Neucimar Fraga (PR), 10 vereadores resolveram congelar o aumento e ainda manter o número atual de 17 parlamentares. Por lei, o número de cadeiras poderia saltar para 21 a partir de 2013.

Na capital capixaba, os parlamentares também resolveram dar ouvidos às críticas da população. Um projeto de lei que previa aumento nos contracheques foi substituído por proposta que congelou os vencimentos nos atuais R$ 7,43 mil mensais a partir da próxima legislatura, que se inicia em janeiro do ano que vem. Chegou a ser discutido um reajuste de 22% – equivalente ao acumulado da inflação dos últimos quatro anos –, mas para evitar o desgaste com a opinião pública, os vereadores optaram por manter o atual valor.

Em Cachoeiro do Itapemirim, a Câmara Municipal aprovou em 13 de dezembro um reajuste ainda mais ousado: 67%. O salário de R$ 6 mil passaria para R$ 10 mil a partir de janeiro. Passaria. Diante da reação contrária dos moradores da cidade de pouco mais de 180 mil habitantes, um dia depois do Natal o presidente da Casa, Júlio Ferrari (PV), anunciou o recuo. “Não podemos deixar uma mancha no Legislativo, apesar de o aumento estar na legalidade”, afirmou na ocasião.

Protesto


Pelo Facebook, 230 pessoas confirmaram presença no protesto em Belo Horizonte. No último, compareceram cerca de 100 manifestantes com nariz de palhaço, cartazes e máscaras com as fotos de alguns dos 41 vereadores da capital. Além desse ato, o grupo divulga na internet uma “contrapropaganda”, rebatendo as explicações da Câmara Municipal que justifica o aumento e pedem um novo “telefonaço”, fornecendo um número da prefeitura para que os insatisfeitos liguem pedindo o veto.

Para o dia 26, data máxima para que Lacerda decida sobre a proposta de reajuste dos vereadores, eles prometem uma grande manifestação na prefeitura. O estudante Evandro Gatron, um dos integrantes do movimento Veta Lacerda, adiantou que a manifestação vai ser nos moldes da feita no dia 5. Além de faixas e apitos, o grupo fará intervenções como a de uma jovem com uma faixa pintada de vermelho nos olhos, representando um salário de “furar olho”.

Há expectativa de que os manifestantes contrários ao aumento nas tarifas de ônibus se unam ao grupo. “Esperamos aumentar o número de presentes, até porque o clima, que agora não está mais chuvoso, ajuda”, disse. Graton não soube dizer quantos telefonemas foram feitos à PBH. Para ele, a propaganda divulgada pela própria Câmara Municipal em horário nobre da TV brasileira está ajudando a divulgar o movimento contra o salário. Mesmo assim, o grupo ingressou com denúncia no Ministério Público, alegando que a publicidade omite informações, como o número do projeto de lei e os valores do atual e futuro salário de cada vereador.