A decisão da presidente Dilma Rousseff de indicar Maria das Graças Foster para a presidência da Petrobras está diretamente ligada aos planos do governo de acelerar os investimentos públicos neste ano de 2012. Dilma também espera que a provável mudança signifique mais afinidade da maior empresa do país com o Planalto. O Correio apurou que o atual presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, é visto como alguém muito próximo ao mercado e menos suscetível à influência do Executivo. Técnica de carreira, Foster tem mais proximidade com a presidente Dilma.
Na reunião ministerial de hoje, Dilma Rousseff vai definir com seus ministros o plano de ação do governo federal para o segundo ano de mandato. O aumento no volume de investimentos está entre os principais pontos da pauta. E a Petrobras terá um papel preponderante nesse processo. Como a empresa foi excluída do cálculo do superavit primário — manobra contábil feita também com a Eletrobras —, ela poderá “abrir o caixa” sem medo de atrapalhar as contas do Tesouro Nacional.
Dilma sabe que a empresa tem poder de fogo. Em julho do ano passado, a Petrobras anunciou seu plano de investimentos para o quadriênio 2011-2015. São 688 projetos que demandarão US$ 224,7bilhões (R$ 393,25 bilhões). A estatal já exerceu papel crucial no Programa de Aceleração do Crescimento, representando 40% da projeção de investimentos embutidos no PAC.
Por isso, a mudança de Gabrielli é estratégica. Dilma sempre reclamou que o atual presidente da Petrobras considerava-se muito autônomo. A proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o fato de estar no cargo há seis anos davam ao executivo uma “sensação de independência” muito grande. Ele amparava-se, sobretudo, no fato de a Petrobras ser uma empresa de economia mista, que não pode tomar suas decisões estratégicas atrelada exclusivamente ao governo, precisando pensar também no mercado.
Essa relação ambígua entre privado e público, na opinião de especialistas, também ocorria durante as diversas crises de gás vividas por Dilma e por Lula. Gabrielli tinha mais dificuldades em impor medidas duras e a presidente espera que Foster, que ainda exerce o cargo de diretora de Gás e Energia da estatal, possa ter uma atuação mais afinada com o Planalto.
Plano de ação
Dilma queria ter promovido a troca no início de seu governo. A relação dela com Gabrielli sempre foi tumultuada. Ficou famoso um entrevero entre ambos, no qual o executivo propôs um plano de ação diverso do imaginado pela presidente e essa devolveu, de bate-pronto. “Consiga 60 milhões de votos, sente aqui nesta cadeira e, aí sim, nós poderemos discutir isso.” Corre também pelos corredores de Brasília uma versão de que, em uma das várias divergências que tiveram, Gabrielli chegou a chorar de raiva. Pessoas próximas a ele são ágeis no desmentido. “Você acha que um homem daquele tamanho choraria por causa de uma divergência?”, questionou uma pessoa próxima ao presidente da Petrobras.
Gabrielli ainda está no comando da estatal graças ao ex-presidente Lula. Foi ele quem, durante a transição, ponderou ser mais prudente deixar o petista baiano no comando da empresa durante os debates sobre a partilha dos royalties do pré-sal. “Ele tem mais memória do assunto”, justificou Lula, sem levar em conta que Graça Foster também é diretora da empresa. Dilma quis, então, indicar Graça Foster para a Casa Civil. Mais uma vez, Lula interveio e pressionou para que o nomeado fosse Antonio Palocci, que deixou o ministério em junho. Gabrielli deve sair da Petrobras agora em fevereiro, provavelmente no dia 13, dia em que o Conselho de Administração da empresa irá se reunir.
O executivo baiano deixa o cargo um ano antes do prazo que ele planejava. Gabrielli quer ser o candidato do PT à sucessão de Jaques Wagner em 2014. Tem grandes chances de emplacar o projeto — especialmente agora, que terá de voltar mais cedo à política baiana. Pelos planos originais, ele permaneceria pelo menos mais um ano à frente do megaorçamento da Petrobras e deixaria o cargo mais próximo do pleito estadual para ambientar-se com a disputa pelo governo do estado.
A simples menção de que Gabrielli deixará o comando da Petrobras incendiou a disputa baiana. Pelo Twitter, o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, afirmou que a “Bahia estava perdendo o cargo na Petrobras e questionou como o estado seria recompensado”. Para os petistas, Geddel, candidatíssimo ao governo estadual pelo PMDB, não está preocupado com a Petrobras. “A intenção dele é tentar mostrar que Jaques Wagner está desprestigiado perante Dilma, o que não é verdade”, disse um deputado baiano.
A única certeza é a de que Gabrielli não vai concorrer à prefeitura de Salvador. Em dezembro do ano passado, o PT municipal escolheu o nome do deputado Nelson Pellegrino para disputar o cargo. Para não ficar sem visibilidade, o presidente da Petrobras assumirá uma secretaria no governo de Jaques Wagner.
Fazenda
Antes da mudança no comando da Petrobras, cogitava-se que Gabrielli poderia assumir duas secretarias importantes no governo da Bahia. A primeira opção era a Secretaria de Indústria e Comércio. A outra alternativa era a Fazenda, que se tornou a opção mais concreta. O atual secretário, Carlos Martins Marques de Santana, deve deixar o cargo em março para concorrer à prefeitura de Candeias (BA). Antes disso, no entanto, ele terá que cumprir um período de quarentena exigido pela legislação federal.