Jornal Estado de Minas

Vereadores já se arrependem e garantem desistir de reajuste salarial

Até parlamentares que votaram a favor do reajuste de 61,8% decidem recuar e prometem votar pela manutenção do veto de Marcio Lacerda

Alice Maciel, Daniel Camargos e Isabella Souto

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Trinta e oito dias depois de votar o reajuste de 61,8% nos salários a partir do ano que vem, 13 dos 22 vereadores que aprovaram a matéria admitem o arrependimento e prometem manter o veto do prefeito Marcio Lacerda (PSB) ao aumento. Se não mudarem novamente de opinião, está assegurando o fim do reajuste. Dos 29 parlamentares ouvidos nessa sexta-feira pela reportagem do Estado de Minas, 23 disseram que vão votar a favor da decisão do prefeito, número suficiente para manter o veto. Apenas dois vereadores – Leonardo Mattos (PV) e Toninho da Vila Pinho (PTB) – se declararam contra a posição de Lacerda. Ainda estão indecisos quatro colegas de plenário.

A Prefeitura de Belo Horizonte ainda não informou quando enviará a mensagem de veto à Câmara Municipal. Assim que chegar à Casa, será criada uma comissão especial para analisar a matéria e emitir um parecer. A partir daí é encaminhada ao plenário. São necessários pelo menos 21 votos para derrubar o veto. Caso seja mantido, o projeto é arquivado. Se derrubado, caberá ao presidente da Câmara, Leo Burguês (PSDB), a promulgação da matéria. Vale lembrar que a votação é secreta.

Apesar de defender a manutenção do veto, alguns vereadores continuam insatisfeitos com o salário de R$ 9,2 mil e pretendem voltar a discutir o aumento. Autair Gomes (PSC) e Elaine Matozinhos (PTB) até admitem manter o veto ao projeto que eles ajudaram a aprovar, mas fazem ressalvas. Formada em direito e ex-delegada de polícia, a trabalhista diz que, se houver algum argumento jurídico pela constitucionalidade do reajuste, votará pela derrubada da canetada de Marcio Lacerda. “A princípio devo manter o veto, mas tenho que conversar com a Procuradoria (da Câmara). Existindo outro caminho legal (para um aumento) não tenho dificuldade de votar pela manutenção (do veto). Já estamos há quatro anos sem aumento e os próximos vereadores vão ficar mais quatro anos sem aumento. Não posso ferir o direito dos outros”, argumentou.

O colega cristão ressaltou que é preciso encontrar outra forma de reajustar os salários para a legislatura que vem, uma discussão que passe pelo percentual de aumento. “O que está pegando mais é o percentual colocado”, afirmou Autair Gomes. Estreante na Casa, Fábio Caldeira (PSB) ressaltou que é preciso discutir com a sociedade se é viável um reajuste e em qual percentual. “Por mais que existam questões constitucionais, não podemos desconsiderar o interesse público”, disse. A vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PCdoB) tem a mesma opinião. Para ela, como deputados estaduais e senadores tiveram aumento no ano passado, é justo que os vereadores também possam ter o acréscimo. “Não dá para colocar a cruz nas costas dos vereadores”, disse.

Pessoal

 
Pego de surpresa com a decisão do prefeito, o vereador João da Locadora (PT) vai propor um novo projeto com um “índice coerente”, se o acordo na Câmara for pela manutenção do veto. “Talvez o erro foi ter feito o aumento no limite”, comentou. Nem assim os vereadores Gunda (PSL) e Geraldo Félix (PMDB) votariam a favor de um novo contracheque. Gunda diz que a sua decisão não tem motivos. “É pessoal”. Geraldo Félix, por sua vez, está preocupado com a “crise internacional” e com o “respeito” ao salário do povo. Embora tenha votado a favor do aumento, mudou de ideia graças à pressão popular. “Naquele dia eu não poderia ter votado contra o aumento porque seria demagogia”, reconheceu.

Leonardo Mattos e Toninho da Vila Pinho foram os únicos a admitir que não abrem mão do aumento de 61,8%. Depois de votar pelo reajuste, Toninho entende que os colegas que mudarem de posição não “honrarão com a palavra de homem”. Para Leonardo Mattos (PV), manter o veto do prefeito seria como “assumir que o vereador é um político de segunda categoria”.


Cenas da pressão popular

A partir de hoje (ontem) sou totalmente contra o reajuste de salário de vereador. Eu não voto mais a favor de aumento de vereador. Eu decidi isso. Decisão minha, pessoal
Gunda (PSL), que nega ter mudado de posição por causa da pressão popular

O gostoso de ser político é ser aplaudido

Geraldo Félix (PMDB), que havia votado a favor do aumento e se diz arrependido

Ele veta tudo que vai da Câmara. Eu acho que foi uma posição errada dele. Esse argumento de inconstitucionalidade é antigo
Leonardo Mattos (PV), que anunciou voto para derrubar o veto

Os três votos contrários é que abriram a porta para o prefeito vetar. Ele pode dizer que não foi unanimidade
Neusinha Santos (PT), se gabando de ter votado contra o aumento desde o início

Agora que a gente vai ver quem é hipócrita e quem não é
Iran Barbosa (PMDB), que votou contra o aumento, sobre os colegas

A terceira capital do país exige muito dos vereadores. Se os vereadores honrarem a palavra de homem, vão derrubar o veto do prefeito. Não posso estar de um lado um dia e depois mudar de voto

n Toninho Pinheiro da Vila Pinho (PTB), criticando os colegas que vão manter o veto

Às vezes a gente tem que rever as posições. Pelo menos agora, a gente fica mais sossegado
Alberto Rodrigues (PV), ao comentar as manifestações populares contra o aumento

Não podemos tirar o direito (de reajuste) dos vereadores eleitos
Elaine Matozinhos (PTB), ao dizer que vai estudar se o projeto é mesmo inconstitucional antes de decidir seu voto