Uma pessoa próxima do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, reconheceu, nos vídeos de segurança do Hospital Santa Luzia, a mulher dele, Cássia Gomes, filmada na noite em que ele morreu por falta de atendimento. O reconhecimento, feito à Polícia Civil do Distrito Federal, desmonta a versão do Santa Luzia, que havia afirmado não ter encontrado registros da passagem do secretário naquele dia.
A Delegacia do Consumidor (Decon), que conduz o inquérito que vai averiguar a exigência de cheque-caução, também ouviu ontem os depoimentos de três funcionários do Santa Luzia e de outros três do Planalto. Já o delegado chefe-adjunto da 1ª Delegacia de Polícia, Johnson Kenedy, responsável pelo inquérito que investigará a morte, disse que o trabalho já foi iniciado, mas ressaltou que a apuração ocorre em sigilo. Em ambos os casos, a Polícia acredita ter informações suficientes para indiciar os responsáveis dos hospitais por omissão de socorro qualificada e homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, quer ainda que os hospitais expliquem a blindagem feita pela equipe de atendentes, que impede que os pacientes sequer tenham a oportunidade de ser avaliados por um médico. Para a Polícia, a estrutura burocrática que avalia primeiro se o paciente tem condições de pagar — via plano de saúde, à vista ou com a apresentação de um cheque-caução — para depois prestar os cuidados aumenta o risco de erro. “As administrações dos hospitais determinam previamente um comportamento negligente quando não colocam um médico para atender o paciente e, primeiro, estipulam um preço”, disparou o diretor-geral da Polícia Civil-DF, Onofre Moraes.
Inversão de papel
Na avaliação do médico e pesquisador da PUC-SP Eduardo Perillo, a lógica econômica que tomou conta dos prontos-socorros particulares é perigosa para o cidadão. “Hoje há primeiro uma avaliação financeira. É uma inversão no papel do hospital”, afirmou. Para Perillo, o argumento do hospital Santa Lúcia, o primeiro pelo qual o secretário Duvanier passou, de que ele “chegou andando calmamente e saiu andando calmamente” é um sinal de que há falhas no atendimento. “O hospital quer jogar sobre o paciente a responsabilidade de avaliar sua própria situação de saúde e alertar para a urgência, mas essa não é a obrigação do doente. Esse é o papel do serviço de pronto-atendimento”, ponderou.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Iran Gonçalves Cardoso, é a favor da avaliação prévia feita por um profissional de saúde. Para ele, o procedimento aceleraria o atendimento nas clínicas específicas para cada paciente. O CRM-DF também foi acionado pelo Ministério da Saúde para investigar a conduta dos médicos e hospitais pelos quais passou o secretário Duvanier.
Protesto
Amigos, parentes e companheiros de profissão do secretário Duvanier Paiva Ferreira farão hoje, às 13h, um ato de repúdio em frente à Catedral de Brasília. “A ideia é levantarmos uma bandeira, junto com outras famílias e entidades correlatas, sobre o descaso da rede privada de saúde e o não cumprimento da legislação”, afirmou um dos organizadores. A missa de 7º dia será celebrada na Catedral, às 12h15.