Cerca de 80 auditores fiscais ocupam a Avenida Álvares Cabral, em frente ao prédio da Justiça Federal, em Belo Horizonte, nesta sexta-feira, para lembrar a Chacina de Unaí - que completa oito anos hoje - e pedir do julgamento imediato dos nove réus indiciados. Até o fim esta manhã,os manifestantes soltarão balões gigantes no largo em frente ao prédio, exibirão faixas e distribuirão panfletos para os pedestres. O ato público é promovido pelo Sindicato Nacional de Auditores Fiscais (Sinait), Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho de Minas Gerais (AAFIT/MG), Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae).
Para a presidente do Sinait, Rosânegla Rassy, a perspectiva é de de que a Justiça entre no caso ainda este ano. "Em maio do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pelo desmembramento de um processo e, em novembro de 2011, mais quatro foram desmembrados. Esse oitavo ano da chacina nos traz todas as boas expectativas", afirma Rosângela. "Conversamos com a juíza feredal substituta da 9ª Vara e ela nos garantiu que está apenas aguardando a chegada dos processos a Minas para analisar o caso", acrescenta.
Relembre o caso
Em 28 de janeiro de 2004, três auditores fiscais e um motorista do Ministério do Trabalho e Emprego de Minas Gerais foram assassinados durante fiscalização na zona rural da cidade. Atualmente, dos nove acusados pelo crime, quatro estão em liberdade, entre eles, o prefeito de Unaí, Antério Mânica (PSDB). Os outros cinco, envolvidos na execução, permanecem presos. "Nesse episódio, não só os auditores fiscais foram atacados como também o Estado brasileiro, então a Justiça precisa dar uma resposta. É a impunidade que infla os grandes empregadores a incomodar o trabalho da fiscalização. Eles contam com o apoio de muitos gestores municipais", comenta a presidente do Sinait.
Os outros estão presos na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O réu Humberto Ribeiro dos Santos também está preso, na capital, porém o processo dele ainda não foi desmembrado.
Quem são os acusados
Antério Mânica - prefeito de Unaí, tem propriedades rurais no Paraná e Unaí e era alvo freqüente de fiscalizações, a maioria delas realizadas pelo auditor Nelson José da Silva, lotado na subdelegacia de Paracatu. Em novembro de 2003, ameaçou o auditor de morte durante uma das inspeções, conforme ele mesmo confessou em depoimento à Polícia Federal. Está em liberdade, tem direito a julgamento em foro especial, porque foi eleito prefeito de Unaí em 2004 e reeleito em 2008.
Norberto Mânica – fazendeiro, irmão de Antério Mânica, também era alvo fiscalizações freqüentes em suas fazendas. É considerado mandante, junto com o irmão. Eestá em liberdade desde 28 de novembro/2006, por força de habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Hugo Alves Pimenta - empresário cerealista, é acusado de ser o mandante das execuções dos auditores e do motorista. Está em liberdade por força de habeas corpus.
José Alberto Costa - conhecido como Zezinho, é empresário, dono de uma empresa de Cereais, com sede em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. É suspeito de ter intermediado a contratação dos pistoleiros, a pedido do amigo Hugo Pimenta. Está em liberdade desde dezembro 2004, beneficiado por habeas corpus.
Francisco Elder Pinheiro - conhecido como Chico Pinheiro, é apontado como o homem que se encarregou de montar toda a estrutura para a chacina e também acompanhou a execução do plano pessoalmente.
Erinaldo de Vasconcelos Silva - suspeito de ter executado, com sua pistola 380, três das quatro vítimas. Integrante de uma quadrilha de roubo de carga e de veículos que atua na região de Goiás e Noroeste de Minas, agia ao lado de Rogério Alan Rocha Rios, chamado por ele para matar os auditores. Está preso.
Rogério Alan Rocha Rios - suspeito de ter participado diretamente das execuções. Armado de um revólver calibre 38, deu vários tiros no auditor fiscal Nelson José da Silva, o verdadeiro alvo dos mandantes do crime, conforme sua confissão. Está preso.
William Gomes de Miranda - Foi contratado para atuar como motorista dos pistoleiros durante a chacina, no entanto, não participou diretamente do crime, porque o carro alugado que conduzia, um Gol vermelho, furou um pneu. Está preso.
Humberto Ribeiro dos Santos – o “Beto” é apontado como o homem que teria se encarregado de apagar uma das provas do crime. Está preso.