Jornal Estado de Minas

PSDB encontra dificuldades para enfrentar PT na briga pela prefeitura de SP

Nascido na maior cidade do país, PSDB está numa encruzilhada em SP

Paulo de Tarso Lyra
O PSDB nasceu em 1988 como uma dissidência do PMDB de José Sarney e Ulysses Guimarães. Sete anos depois, assumiu a Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso e o Palácio dos Bandeirantes com Mário Covas. Permanece no comando de São Paulo até hoje, mas está fora do Planalto desde 2002. Tem um eleitorado cativo no estado e quase 20% de reconhecimento e respeito na capital paulista, segundo pesquisas encomendadas pelo principal rival, o PT. Tanto poder político é insuficiente para responder, a nove meses das eleições municipais, se o partido terá um candidato competitivo na maior cidade do país para enfrentar o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e de Fernando Haddad.
Em 4 de março, os tucanos farão uma prévia com quatro pré-candidatos: Bruno Covas, secretário de Meio Ambiente de São Paulo; José Aníbal, secretário de Energia; Andrea Matarazzo, secretário de Cultura; e Ricardo Trípoli, deputado federal. Caberá a um dos quatro a tarefa de, amparado pela máquina estadual, convencer uma cidade de 12 milhões de habitantes, repleta de problemas e desafios, que tem condição de manter o prestígio da legenda em alta.

O suspense que colocou o principal partido de oposição ao PT nessa encruzilhada surgiu da disputa dos dois maiores líderes da legenda no estado: José Serra e Geraldo Alckmin. Rivalidade alimentada há pelo menos 12 anos. Desde 2000, só esses dois tiveram o direito de disputar cargos majoritários no partido. Alckmin ainda era vice de Covas quando foi escolhido pela legenda para ser candidato a prefeito da capital. Em 2002, ele próprio elegeu-se governador.

Em 2004, Serra ganhou a prefeitura. Dois anos depois, chegou ao Palácio dos Bandeirantes. Em 2008, Alckmin perdeu a prefeitura de São Paulo, mas venceu o governo estadual em 2010. Nesse período, Serra foi duas vezes candidato a presidente e Alckmin, uma. “Havia um acordo tático de que ninguém poderia furar esse bloqueio. A militância do PSDB está há muito tempo sendo convocada apenas para homologar essa alternância”, reclamou um dos postulantes à prefeitura, sem querer comprar briga explícita com os dois caciques estaduais.

Falta também, na opinião de vários tucanos ouvidos pelo Estado de Minas, alguém com pulso suficientemente firme e disposição política para colocar ordem na casa. Nos primórdios do PSDB, esse trabalho de organização partidária era dividido por Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas. Os dois últimos estão mortos. E Fernando Henrique? “Ele está interessado em lançar livros, dar palestras, participar de documentários, curtir a sua nova namorada. Ele não tem mais paciência para se envolver com a engrenagem do partido”, confirmou um experiente tucano.

O que não impede FHC de emitir recados diretos, especialmente contra Serra. “A minha cota de Serra deu. Ele foi duas vezes meu ministro, duas vezes candidato a presidente, candidato a governador e a prefeito. Chega, não tenho mais paciência com ele”, confessou o ex-presidente da República a pelo menos dois interlocutores, semanas antes da entrevista à revista The Economist na qual aponta o senador Aécio Neves como candidato natural do PSDB à campanha presidencial de 2014.

VISÃO ESTREITA O que impacienta o PSDB não é só o fato de o comando do partido em São Paulo estar concentrado apenas em duas mãos. Irrita os filiados a constatação de que nem Alckmin nem Serra podem ser considerados lideranças empolgantes. O primeiro é visto como um governador provinciano. Serra tem mais currículo. Esteve à frente da pasta do Planejamento, foi senador e ministro da Saúde. Mas sua falta de carisma deixou-o isolado no partido. Um dos mais experientes parlamentares tucanos, o deputado Walter Feldmann está desanimado. Ele expôs à reportagem toda a desilusão com a legenda que ajudou a fundar no fim da década de 1980. “Um partido que perde a capacidade de definir objetivos estratégicos vai ficar sempre refém de projetos conjunturais e eleitoreiros.”