O suspense que colocou o principal partido de oposição ao PT nessa encruzilhada surgiu da disputa dos dois maiores líderes da legenda no estado: José Serra e Geraldo Alckmin. Rivalidade alimentada há pelo menos 12 anos. Desde 2000, só esses dois tiveram o direito de disputar cargos majoritários no partido. Alckmin ainda era vice de Covas quando foi escolhido pela legenda para ser candidato a prefeito da capital. Em 2002, ele próprio elegeu-se governador.
Em 2004, Serra ganhou a prefeitura. Dois anos depois, chegou ao Palácio dos Bandeirantes. Em 2008, Alckmin perdeu a prefeitura de São Paulo, mas venceu o governo estadual em 2010. Nesse período, Serra foi duas vezes candidato a presidente e Alckmin, uma. “Havia um acordo tático de que ninguém poderia furar esse bloqueio. A militância do PSDB está há muito tempo sendo convocada apenas para homologar essa alternância”, reclamou um dos postulantes à prefeitura, sem querer comprar briga explícita com os dois caciques estaduais.
Falta também, na opinião de vários tucanos ouvidos pelo Estado de Minas, alguém com pulso suficientemente firme e disposição política para colocar ordem na casa. Nos primórdios do PSDB, esse trabalho de organização partidária era dividido por Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas. Os dois últimos estão mortos. E Fernando Henrique? “Ele está interessado em lançar livros, dar palestras, participar de documentários, curtir a sua nova namorada. Ele não tem mais paciência para se envolver com a engrenagem do partido”, confirmou um experiente tucano.
O que não impede FHC de emitir recados diretos, especialmente contra Serra. “A minha cota de Serra deu. Ele foi duas vezes meu ministro, duas vezes candidato a presidente, candidato a governador e a prefeito. Chega, não tenho mais paciência com ele”, confessou o ex-presidente da República a pelo menos dois interlocutores, semanas antes da entrevista à revista The Economist na qual aponta o senador Aécio Neves como candidato natural do PSDB à campanha presidencial de 2014.
VISÃO ESTREITA O que impacienta o PSDB não é só o fato de o comando do partido em São Paulo estar concentrado apenas em duas mãos. Irrita os filiados a constatação de que nem Alckmin nem Serra podem ser considerados lideranças empolgantes. O primeiro é visto como um governador provinciano. Serra tem mais currículo. Esteve à frente da pasta do Planejamento, foi senador e ministro da Saúde. Mas sua falta de carisma deixou-o isolado no partido. Um dos mais experientes parlamentares tucanos, o deputado Walter Feldmann está desanimado. Ele expôs à reportagem toda a desilusão com a legenda que ajudou a fundar no fim da década de 1980. “Um partido que perde a capacidade de definir objetivos estratégicos vai ficar sempre refém de projetos conjunturais e eleitoreiros.”