Como o PSDB está pouco disposto a isso, o prefeito paulistano ensaiou um movimento ousado: foi ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva oferecer um nome da legenda para ser vice do ex-ministro da Educação Fernando Haddad. A proposta repercutiu muito mal no Palácio do Bandeirantes. “Se ele (o PSD) pode ser vice do PT, por que não pode ser nosso vice? O PT não abrirá mão da cabeça de chapa na prefeitura, por que nós teríamos de fazer isso?”, questionou o governador em reunião com sua equipe política.
Mais uma vez o fantasma da disputa entre Alckmin e José Serra vem à tona. Serra, que avisou diversas vezes que não é candidato do partido em outubro, trabalha para que seja fechada uma aliança com o PSD de Afif. Alckmin quer puxar a legenda para o outro lado. Mas sabe dos riscos que corre. Se por acaso nenhum tucano passar para o segundo turno — como Haddad está praticamente garantido na disputa, a segunda vaga seria ocupada pelo peemedebista Gabriel Chalita —, os serristas vão responsabilizá-lo. E espalharão que o governador agiu assim para apoiar o candidato do PMDB, antigo secretário de educação estadual e ex-filiado ao PSDB.
Em 2008, a queda de braço entre Serra e Alckmin já produziu esse quadro. Na época, o governador de São Paulo era Serra, e Alckmin, candidato a prefeito. O PSDB rachou, parte ficou com o atual governador e a outra apoiou a candidatura de Gilberto Kassab, então no DEM. Kassab, e não Alckmin, foi ao segundo turno e derrotou a petista Marta Suplicy.
Outro pré-candidato do PSDB, o deputado Ricardo Trípoli, não acredita que esse cenário se repetirá. Ele lembra que em 2008 Kassab estava no DEM e era vice de Serra. A situação de Chalita é completamente diferente. “O PMDB em São Paulo não existe. Eles só têm um vereador. Quem tinha voto no partido era o Orestes Quércia (morto em dezembro de 2010)”, afirmou o deputado federal. O deputado federal Walter Feldmann reconhece, no entanto, que esse risco existe. Mas, na opinião dele, essa polarização nacional entre PSDB e PT está fazendo mal para os dois partidos.
PT distante do PSD
São Paulo – O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, definiu ontem com dirigentes de sua legenda as diretrizes para as alianças que serão fechadas em torno de sua candidatura. Segundo ele, um acordo com o PSD (partido do atual prefeito Gilberto Kassab) não é prioridade neste momento. “Na nossa opinião, não houve uma aproximação formal do PSD, os dirigentes do PT não foram procurados e o PSD deixou claro que tem outras prioridades. A nossa prioridade é a busca de coligação com os partidos da base aliada do governo Dilma”, afirmou Haddad.
De acordo com ele, os 19 integrantes do conselho político de sua pré-campanha foram unânimes na decisão de focar as negociações com as seguintes legendas: PR, PDT, PCdoB e PMDB. Haddad disse que o objetivo é discutir com os aliados tradicionais o projeto político da coligação, sem que isso passe por cima dos interesses do PT em São Paulo. “Não queremos que qualquer aliança rebaixe nossas pretensões de atuação na cidade”, reforçou. E voltou a dizer que a proposta feita por Kassab ainda é incipiente e que o PSD passa por um processo de “aproximação nacional que não teve reflexos por aqui.”
Ainda sobre o partido de Kassab, Haddad negou que haja um racha no PT com relação a um eventual acordo. “Não vamos omitir da opinião pública que este debate existe. O debate existe, posições divergentes existem, mas o que foi decidido unanimemente é que o debate não pode ser interditado”, ponderou. Ao falar de sua plataforma de campanha, ressaltou: “O sentimento do PT é de mudança e, na minha opinião, está sintonizado com o sentimento da população. Vamos ser coerentes com as nossas atitudes até aqui.”
O petista disse também que, apesar da sugestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de discutir a proposta de aliança com Kassab, o conselho político de sua campanha acha que é preciso aprofundar o diálogo com os partidos da base, independentemente se eles já têm o candidato, uma vez que as alianças podem ocorrer também no segundo turno. Haddad disse que os aliados estão pedindo um tempo para deliberar sobre possível acordo e ver a evolução das candidaturas. As conversas estão mais avançadas com o PR.