Apesar da pressão popular, um grupo de vereadores da Câmara de Belo Horizonte articula a derrubada do veto dado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB) ao projeto de lei que aumenta em 61,8%, de R$ 9 mil para R$ 15 mil, o salário dos parlamentares da Casa. O movimento é liderado por Leonardo Mattos (PV), um dos poucos vereadores que assumem publicamente o desejo de ganhar mais. O grupo dos que têm a mesma posição, mas prefere se esconder, somaria 26, conforme cálculos de integrantes tanto da ala dos que concordam com o aumento quanto da que não quer o reajuste. Para derrubar o veto são necessários 21 votos.
“A população, para ser bem representada, tem que pagar bons salários a quem elege”, afirma Leonardo Mattos. “Quem conseguiu impedir a destruição de um dos cartões-postais de Belo Horizonte, por exemplo, fui eu”, argumentou o parlamentar, se referindo ao projeto, que não chegou a ser votado pela Câmara, alterando o zoneamento da cidade para permitir a ampliação da estrutura do antigo Instituto Hilton Rocha, na Serra do Curral, para se transformar em um centro de tratamento de câncer.
O presidente do Legislativo municipal, Léo Burguês (PSDB), defende o salário R$ 15 mil para os vereadores, mas que vai propor na reunião do partido, marcada para terça-feira, que os vencimentos dos parlamentares permaneçam no atual patamar. O encontro, segundo ele, servirá para definir a posição da legenda na votação do veto. A bancada tucana na Câmara é formada por quatro vereadores. “Independentemente da posição pessoal do vereador, nós temos que ser a caixa de ressonância da cidade, e a população de Belo Horizonte não quer o reajuste.”
Alvo de protestos, sobretudo na internet, o tucano bloqueou comentários feitos em sua página na rede social Facebook. “As críticas precisam ser feitas de forma cidadã, não com palavras de baixo calão e ofensas pessoais”, diz. Ontem, durante pequena entrevista coletiva, Burguês mostrou uma equipe de filmagem que acompanhava as perguntas feitas pelos repórteres.
Assim como o PSDB, o PSB deverá emitir posição para a bancada do partido na Câmara sobre o veto de Lacerda ao aumento dos salários. O pedido para que a legenda se pronuncie oficialmente sobre o reajuste será feito pelo vereador Fábio Caldeira, um dos três parlamentares socialistas na Casa.
A expectativa é de que o veto do prefeito ao reajuste dos salários seja votado na quarta-feira. Na terça, a comissão criada para analisar o texto, presidida por Elaine Matosinhos (PTB), deverá emitir relatório. Na mesma linha de Léo Burguês, a parlamentar afirmou ser a favor da manutenção do veto.
Na Internet
Para ampliar a cobrança sobre os vereadores, entrou no ar esta semana um site para acompanhar a votação dos 41 vereadores e pressioná-los a não derrubar o veto do prefeito ao aumento de 61,8%. A página traz um quadro interativo com a posição de cada um deles atualizado automaticamente, de acordo com a primeira votação do aumento, a situação atual e os manifestos recebidos pelo site. A página traz ainda um infográfico com a novela do aumento em capítulos, galeria de fotos das manifestações contra os vereadores , abaixo-assinado a favor da manutenção do veto, além de notícias e espaço para comentários dos leitores. O site está hospedada no domínio www.naovaiderrubar.com e sua autoria é desconhecida.
Repúdio
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) divulgou ontem uma nota de repúdio contra a Câmara Municipal de BH por causa de agressões cometidas contra jornalistas que cobriam a entrevista coletiva concedida anteontem pelo presidente da Casa, Léo Burguês.
“Não bastasse a Casa do povo belo-horizontino ser objeto de chacota e palco de denúncia contra malversação do dinheiro público, vem se somar a esse triste rol de fatos burlescos a denúncia de agressão aos trabalhadores que têm por tarefa perguntar, inquirir, investigar e por missão informar, esclarecer, denunciar”, diz a nota. O sindicato também criticou as declarações de Burguês, que, “para justificar os injustificáveis aumentos de salários dos vereadores tentou banalizar a desfaçatez dos seus pares comparando seus ganhos à laboriosa categoria dos jornalistas”.