Brasília – A quatro dias de assumir oficialmente o comando da Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), a socióloga Eleonora Menicucci de Oliveira, 66 anos, faz pressão para que o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a redação atual da Lei Maria da Penha. Prevista para ser apreciada hoje pelo STF, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.424 visa a garantir a não aplicabilidade da lei dos juizados especiais, que faz com que alguns agressores consigam sair da abrangência da Lei Maria da Penha ficando impunes. A nova ministra se diz “completamente” favorável à proposta de o Ministério Público poder processar o agressor mesmo sem denúncia da vítima. Segundo ela, o que falta é avançar na implementação da lei. A atual ministra-chefe da pasta, Iriny Lopes (PT), que sai para concorrer à Prefeitura de Vitória (ES), também defende a proposta e estará hoje no plenário do STF para assistir à apreciação da matéria.
Carro-chefe da SPM e relatada pela atual ministra, a Lei Maria da Penha fez parte de uma série de temas debatidos por Iriny e Eleonora, durante entrevista coletiva realizada ontem. Segundo a futura ministra, a prioridade da secretaria será a luta no combate à violência contra a mulher. “É inadmissível ouvir em 2012 que uma mulher fez uma denúncia, pediu proteção e dois dias depois apareceu morta. Onde está a segurança pública?”, criticou Eleonora.
Com formação feminista, a futura ministra se mostrou pragmática com relação ao trabalho de cada esfera do poder público. “Que o Executivo tenha a responsabilidade de garantir a proteção à mulher (que sofre violência doméstica) e a punição.” Já ao Legislativo, Eleonora entregou a responsabilidade de decidir sobre a descriminalização do aborto. Se esquivando de declarações anteriores de que era favorável ao aborto, a socióloga mudou o foco. “Eu não seria eu se eu não reafirmasse tudo que eu falei. Mas hoje eu sou governo, a minha posição hoje é de governo”, afirmou. Para ela, o aborto não é uma questão ideológica. “Mas uma questão de saúde pública, como o crack, a droga, a dengue, a Aids, como as doenças infectocontagiosas”, completou.
Amizade
Sobre os tempos da ditadura afirmou: “Quem passou pelo que nós passamos na luta contra a ditadura cresce, amadurece e não esquece nunca. São marcas que nos tornam mais fortes e mais sensíveis ao debate, sensíveis à espera, sem sentar-se numa cadeira e ficar esperando a banda passar. É espera com ação”.