Vizinha de Vanderlei, Clarice Rosa de Oliveira, de 42, assumiu lote no assentamento há quatro anos. Depois de plantar abacaxi, dedica-se hoje à lavoura de maracujá. Mantém 450 pés da fruta, que, entre janeiro e a primeira semana de fevereiro, renderam à agricultora 100 caixas do produto vendidas a sacolões de Uberlândia e ao Ceasa em Belo Horizonte a R$ 35 cada.
Vanderlei faz uma comparação com ex-moradores do assentamento. “Tem muita gente que chega aqui, consegue um financiamento do Incra e a primeira coisa que faz é comprar um carro velho. Gasta o dinheiro e ainda não consegue andar no veículo, de tão desgastado. O que eu fiz foi juntar o pouco que tinha conseguido e aplicar aqui”, afirma.
Tanto Vanderlei como Clarice reclamam da demora do Incra em liberar o certificado que lhes concede o direito de trabalhar na terra em que vivem. Nenhum dos novos moradores do Zumbi dos Palmares tem o documento. “Uma grande empresa fabricante de sucos vem aqui toda semana querendo comprar os maracujás, mas sem o documento do Incra não consigo o título de produtor rural, exigido pela indústria para que possa nos comprar o produto”, conta Clarice.
Segundo Vanderlei, outro problema que surge com a falta da documentação é a impossibilidade de acesso a programas de financiamento do governo federal para a agricultura familiar, como o Pronaf. Os planos do produtor, caso obtivesse o documento, e consequentemente o acesso à linha de crédito, são aumentar o rebanho e passar a fornecer leite para cooperativas, que também exigem o certificado de produtor rural aos seus fornecedores.