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Estado de Minas

Produtores do MST trabalham sem comprovar autorização do uso da terra


postado em 13/02/2012 07:13 / atualizado em 13/02/2012 08:05

Clarice, que está em situação irregular no assentamento, produz maracujá, mas não tem como vender para a indústria de sucos(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Clarice, que está em situação irregular no assentamento, produz maracujá, mas não tem como vender para a indústria de sucos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Dois agricultores que compraram irregularmente os lotes dos sem-terra no assentamento Zumbi dos Palmares, no Triângulo Mineiro, conseguiram, mesmo com a falta de estrutura, iniciar a produção de leite e frutas e afirmam que só não aumentam os rendimentos por não terem documentação que comprova autorização para uso da terra.

Vanderlei de Assis Ferreira, de 46 anos, assumiu um dos lotes do assentamento há três anos. O pequeno pecuarista, dono de 16 vacas, coloca no mercado de Uberlândia 160 litros de leite por dia, e é o responsável pela única visita diária de um caminhão transportador de leite ao Zumbi dos Palmares. Vanderlei assumiu o terreno ao transferir para o antigo morador uma casa em Uberlândia. “Sempre trabalhei em fazendas de outras pessoas. Vir para cá foi minha única chance de ter um negócio próprio no que eu gosto de fazer”, afirma. O leite é repassado a valor que oscila entre R$ 0,56 e R$ 0,70 o litro, dependendo do regime de chuvas, que altera o volume e a qualidade do pasto.

Vizinha de Vanderlei, Clarice Rosa de Oliveira, de 42, assumiu lote no assentamento há quatro anos. Depois de plantar abacaxi, dedica-se hoje à lavoura de maracujá. Mantém 450 pés da fruta, que, entre janeiro e a primeira semana de fevereiro, renderam à agricultora 100 caixas do produto vendidas a sacolões de Uberlândia e ao Ceasa em Belo Horizonte a R$ 35 cada.

Vanderlei faz uma comparação com ex-moradores do assentamento. “Tem muita gente que chega aqui, consegue um financiamento do Incra e a primeira coisa que faz é comprar um carro velho. Gasta o dinheiro e ainda não consegue andar no veículo, de tão desgastado. O que eu fiz foi juntar o pouco que tinha conseguido e aplicar aqui”, afirma.

Tanto Vanderlei como Clarice reclamam da demora do Incra em liberar o certificado que lhes concede o direito de trabalhar na terra em que vivem. Nenhum dos novos moradores do Zumbi dos Palmares tem o documento. “Uma grande empresa fabricante de sucos vem aqui toda semana querendo comprar os maracujás, mas sem o documento do Incra não consigo o título de produtor rural, exigido pela indústria para que possa nos comprar o produto”, conta Clarice.

Segundo Vanderlei, outro problema que surge com a falta da documentação é a impossibilidade de acesso a programas de financiamento do governo federal para a agricultura familiar, como o Pronaf. Os planos do produtor, caso obtivesse o documento, e consequentemente o acesso à linha de crédito, são aumentar o rebanho e passar a fornecer leite para cooperativas, que também exigem o certificado de produtor rural aos seus fornecedores.


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