Serra sempre disse que não seria candidato. O PSDB já havia se conformado com a ideia, e a possibilidade das prévias no início de março — reunindo Tripoli; o secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas; o secretário estadual de Energia, José Aníbal; e o secretário de Cultura, Andrea Matarazzo — tinha virado um fato consumado. Mas a festa de aniversário de 32 anos do PT, na última sexta-feira, mudou completamente esse cenário.
A presença do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, enfrentando as vaias da militância petista, abalou as crenças do tucanato. As ameaças de uma aliança do PSD com o PT, que antes não passavam de “meras manobras irritativas e provocativas do Kassab”, passaram a ser encaradas de outra maneira. “Meu Deus, ele quer de fato levar à frente esse projeto”, disse ao Correio um experiente parlamentar do PSDB.
A parceria dos dois partidos seria mortal para o PSDB. “Nós ficaríamos apenas com o DEM e o PPS. Lula, a militância petista e a máquina da prefeitura reforçariam o risco de um partido hegemônico, algo que jamais ocorreu no país”, disse o deputado Walter Feldmann (SP). Os tucanos sabem que a aproximação de Kassab com o PT é pragmática. O PSD aposta no poder de influência dos petistas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir o fundo partidário e o tempo de televisão, benefícios eleitorais que a legenda não tem até o momento.
Com Serra na disputa, Kassab volta para a órbita do PSDB. Ele sempre disse aos petistas que a única hipótese de a legenda não se coligar com ninguém ou não lançar candidato próprio seria a decisão do ex-governador e ex-prefeito de disputar a prefeitura. As chances de o PSD lançar um nome próprio estão descartadas. “Não temos tempo para isso”, admitiu o prefeito, em conversas com lideranças tucanas.
Acordos encaminhados
Caso Serra e o PSD se entendam, os tucanos devem marchar para a prefeitura ao lado do DEM, PPS, PP e PV. Aos petistas, restariam o PSB, o PR e o PDT. O PMDB vai de Gabriel Chalita, o PCdoB deve ir de Netinho de Paula e o PRB, com Celso Russomano. “O tempo de televisão não muda, mas mudam as correlações de força nas ruas”, disse Feldmann.
Trípoli foi pessoalmente ontem ao presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Avisou que não desistirá das prévias. Afirmou que não foi procurado nem por Serra nem pelo governador Geraldo Alckmin nem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tampouco recebeu algum comunicado dos diretórios estadual e municipal. “Se nenhuma das três principais lideranças me procurou e nenhuma das duas instâncias partidárias se manifestou, as coisas não mudaram”, disse o deputado federal.