Jornal Estado de Minas

Dilma dá sua cara ao governo com várias companheiras no poder

Um ano depois de assumir o Planalto, Esplanada está mais técnica, formada, sobretudo, por mulheres dos quadros do PT ou que já trabalharam com ela

Alessandra Mello

“Nunca antes na história deste país” o sexo feminino teve tanto espaço no primeiro escalão do governo federal. O bordão é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o recorde de mulheres na Esplanada dos Ministérios e em cargos importantes é da presidente Dilma Rousseff. Ela começou seu governo com nove ministras. Um ano depois, já são 11, contando com Maria das Graças Foster, empossada semana passada na presidência da Petrobras, cargo com status de ministério.

Esse número já supera a quantidade de mulheres que passaram pelo primeiro escalão ao longo dos oito anos do governo Lula. Segundo estudo das pesquisadoras Hildete Pereira de Melo e Lourdes Bandeira, desde a proclamação da República até 2010, 18 mulheres ocuparam pastas ministeriais como efetivas ou interinas. Desse total, 11 foram nomeadas no governo Lula, incluindo nessa conta Márcia Nassit que permaneceu apenas alguns meses à frente do Ministério da Saúde. Com as indicações de Dilma, incluindo o nome de Iriny Lopes (PT-ES), que deixou a Esplanada para disputar as eleições municipais, esse número saltou para 30.

O aumento da presença feminina é reflexo da nova cara do governo Dilma, com ministros de perfil mais técnico e menos político e muitas “companheiras”, já que boa parte das mulheres no primeiro escalão pertence ao PT ou trabalharam com a presidente durante o governo Lula. Das 12 ocupantes de postos chaves no primeiro escalão, oito são do partido da presidente. Seis exerceram cargos de confiança na administração passada, algumas trabalharam diretamente com Dilma, caso de Gleisi Hoffman (PT-PR), que foi diretora financeira da Itaipu Binacional quando a presidente ocupava o Ministério das Minas e Energia.

Desde a posse, em janeiro de 2010, já houve 13 trocas de comando nos cargos mais importantes da República. Nessas mudanças, duas mulheres assumiram ministérios cobiçados. A Casa Civil, antes comandada pelo todo-poderoso deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), está hoje nas mãos de Gleisi Hooffman, e o Ministério das Relações Institucionais, antes comandado por Luiz Sérgio (PT-RJ), passou para Ideli Salvatti (PT-SC), que ocupava a inexpressiva pasta da Pesca.

A mais recente nomeada por Dilma foi assunto nos jornais e revistas mundo afora pelo ineditismo. Graça Foster é a primeira mulher a assumir no mundo o comando de uma companhia de petróleo. Militante do PT e funcionária de carreira da Petrobras, ela já figurava na lista do jornal Financial Times como uma das 50 mulheres em ascensão no mundo dos negócios. Agora, chegou ao topo da carreira na estatal petroleira.

Para o cargo de ministra da Secretaria de Política para Mulheres Dilma escolheu, sem a interferência de nenhum partido, Eleonora Menicucci, feminista histórica e defensora da legalização do aborto, assunto que divide opiniões dentro do Congresso Nacional. Apesar de ser filiada ao PT, Eleonora não participava ativamente da vida partidária e nunca disputou nenhum cargo eletivo.

 

INDICAÇÕES NO JUDICIÁRIO

Além das integrantes do primeiro estafe do Executivo, a presidente indicou no seu mandato duas mulheres para posições importantes: a gaúcha Rosa Weber para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a pernambucana Ana Arraes (PSB) para o Tribunal de Contas da União. A nova ministra do STF foi uma escolha pessoal de Dilma, em função da amizade da família da presidente com a jurista, que antes do STF atuava como ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Rosa Weber é a terceira mulher indicada para o Supremo e Ana Arraes é a segunda ministra a ocupar a corte de contas em seus 12 anos de existência.

Para o cientista político Malco Camargos, finalmente um dos grandes paradigmas da política está sendo quebrado com o aumento das mulheres nas esferas do poder. “A política sempre foi, historicamente, um espaço masculino, mas com a chegada de uma mulher à Presidência da República isso está mudando. Ainda há um caminho enorme a ser percorrido, mas já demos passos importantes.”

Para ele, essa mudança no perfil dos ocupantes do primeiro escalão, marcado pela presença maior de mulheres, veio para ficar. “Geralmente, as mulheres que conseguem ocupar um espaço tipicamente masculino são muito competentes, pois, para isso elas têm que ser extremamente qualificadas. Acho que esse é o perfil das ministras da presidente”, destacou.

Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel (PT), da cota pessoal de Dilma, a “nomeação de mulheres para cargos estratégicos” é a consolidação de um processo que culminou com a eleição da própria presidente. “A ascensão feminina não é mais novidade na história recente do Brasil. A escolha de mulheres para postos chaves do governo é cada vez menos fruto de uma ação afirmativa, na medida em que o perfil técnico é cada vez mais o critério de nomeação”, acredita Pimentel. “É dessa forma que se pode considerar as duas últimas escolhas da presidenta Dilma: a da ministra Eleonora Menicucci e a de Maria das Graças Foster, referências em suas áreas de atuação.”