Jornal Estado de Minas

Gasto de vereadores depende do tamanho da base

Bertha Maakaroun - enviada especial
Os custos variam. Vereadores que têm base concentrada em nichos do tipo categorias profissionais e igrejas e mantêm a ação política do mandato voltada para a clientela tendem a gastar menos. Mas a maior parte tem o eleitorado definido a partir de territórios – regiões da cidade – em que a competição eleitoral exige investimentos de campanha maiores para manter “acesa a chama” da memória do eleitor. Gastos maiores ainda são necessários quando o vereador tem a votação difusa pela cidade. Quanto maior a área a percorrer, mais pessoal e maior volume de material é requerido.
Bem antes de o calendário eleitoral permitir, as campanhas já estão nas ruas. Mas elas só se formalizam a partir de julho, quando os vereadores encaminham por mala direta a chamada “carta de apresentação”. Cada um faz em média 100 mil postagens, em que se apresentam, discorrem sobre a sua vida pregressa, os “feitos” e propostas apresentadas ao longo do mandato que se encerra. Ao final do texto, o inevitável pedido: “Espero poder continuar contando com o seu voto”. Ao lado das cartas, a ofensiva é lançada nas ruas: entre 1 milhão e 2 milhões de santinhos exibem a foto do candidato, o seu número, os apoios políticos e, no verso, a pequena biografia.

Banners, minidoors, carros de som com os jingles do tipo “esse faz”, equipe de campo para o corpo a corpo em visitas dirigidas, cartazes, adesivos, equipe para conceber e alimentar a campanha virtual nas redes sociais: a lista é grande. Quanto mais crescem os itens, mais caras as campanhas ficam.

O temor da fiscalização e consequente perda do mandato eletivo em caso de fraudes e de caixa 2 tem levado, a cada novo pleito, a maior precisão na apresentação das contas de campanha. Em 2004 os vereadores eleitos declararam ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) um gasto médio de R$ 42.014. Quatro anos depois, as prestações de conta enviadas à Justiça Eleitoral informaram a despesa média de R$ 102.290.

Entretanto, embora mais acuradas em relação a 2004, as declarações de gastos encaminhadas à Justiça Eleitoral em 2008 ainda não refletiram as reais despesas. O vereador eleito que informou o menor gasto foi Paulinho Motorista (PSL): R$ 8.097. Com esses recursos, toda a campanha de um candidato se resumiria a aproximadamente 500 mil santinhos. E nada mais.

Caixa de campanha

O choro é livre. Mais do que nunca, os vereadores se queixam de dificuldades para fazer caixa de campanha. Dos 41, apenas o vereador Elias Murad (PSDB), por problemas de saúde, não deverá se candidatar. “Dinheiro está igual perna de cobra: ninguém vê, ninguém tem. Exceção às campanhas competitivas para prefeito, as de vereador passam os pires. Financiadores de campanha, depois do Mensalão, não existem mais”, reclama Wagner Messias, o Preto (DEM). Segundo ele, os empresários não recebem mais vereadores. “Já disputei oito eleições e nunca vi uma situação tão ruim. Para captar recurso está muito difícil. E tem vereador que não guardou nada, não reservou nada, nem sabe o que vai fazer”, acrescenta. Assim como Preto, o vereador Ronaldo Gontijo (PPS) percebemaior resistência do empresariado. “Depois desta nova maneira de prestar conta exigida pela Justiça eleitoral, a coisa vai ficando mais difícil. Tem empresário que não quer se expor apoiando um candidato. Prefere investir no partido”, avalia ele, atribuindo às legendas a responsabilidade pelo financiamento dos candidatos.

Os mais previdentes e antigos de Casa iniciam o caixa da campanha no primeiro dia do mandato. Tem de tudo. Desde aquele que, segundo denúncias, acumula recursos retendo parte dos salários dos servidores comissionados, até os casos de vereadores sérios que em mandatos participativos acumulam doações de simpatizantes. Outros dizem que recorrem à ajuda de familiares.

O fato é que, embora nenhum deles admita publicamente e o discurso oficial seja ideológico – a defesa do interesse público – , o que os move é o desejo de dar continuidade à carreira política, as facilidades abertas pelo cargo, entre elas a possibilidade de contratação em cada gabinete de R$ 42,661 mil em pessoal sem concurso público, verba indenizatória de R$ 15 mil ao mês para o custeio do mandato, além da influência política exercida sobre cargos da administração. Outro fator que leva vereadores a desejarem a reeleição é a interlocução que abrem com diversos segmentos importantes da sociedade, toda vez que propõem um projeto que mexem com interesses específicos.

Dinheiro curto e desinteresse

Graça para político, empresário algum vai fazer. A avaliação é de Olavo Machado, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), sobre a possibilidade de financiamento às campanhas de vereadores. “A situação é difícil mesmo. O empresário normalmente vai investir para defender alguns interesses ou uma visão de mundo. Nesse sentido, o que vale é o patrimônio político de cada um”, afirma. Segundo ele, a decisão de financiar candidato dependerá do foro íntimo de cada empresário. Opinião semelhante tem o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada, Alberto Salum. “O apoio aos vereadores é algo absolutamente pessoal”, diz, acrescentando que, em geral, as empresas da construção pesada entram em campanhas majoritárias. Bem menos em campanhas ao Legislativo. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Luiz Fernando Pires, diz não considerar haver desinteresse dos empresários em financiar as campanhas de vereadores. “Sempre apoiamos aqueles com quem temos maior relacionamento. A decisão é empresarial e pessoal. O sindicato não entra nisso”, diz.